25/11/2010

Príncipe (Ana Hatherly)


Príncipe (Ana Hatherly)
Era de noite quando eu bati à tua porta
e na escuridão da tua casa tu vieste abrir
e não me conheceste.
Era de noite
são mil e umas
as noites em que bato à tua porta
e tu vens abrir
e não me reconheces
porque eu jamais bato à tua porta.
Contudo
quando eu batia à tua porta
e tu vieste abrir
os teus olhos de repente
viram-me
pela primeira vez
como sempre de cada vez é a primeira
a derradeira
instância do momento de eu surgir
e tu veres-me.
Era de noite quando eu bati à tua porta
e tu vieste abrir
e viste-me
como um náufrago sussurrando qualquer coisa
que ninguém compreendeu.
Mas era de noite
e por isso
tu soubeste que era eu
e vieste abrir-te
na escuridão da tua casa.
Ah era de noite
e de súbito tudo era apenas
lábios pálpebras intumescências
cobrindo o corpo de flutuantes volteios
de palpitações trémulas adejando pelo rosto.
Beijava os teus olhos por dentro
beijava os teus olhos pensados
beijava-te pensando
e estendia a mão sobre o meu pensamento
corria para ti
minha praia jamais alcançada
impossibilidade desejada
de apenas poder pensar-te.
São mil e umas
as noites em que não bato à tua porta
e vens abrir-me
 Ana Hatherly

19/11/2010

Sem tempo, apenas um olá

Adorei os vossos comentários ao post anterior. Sem tempo para responder nem para vos visitar, deixo Nuno Júdice:


A Voz que Nos Rasgou por Dentro
De onde vem - a voz que
nos rasgou por dentro, que
trouxe consigo a chuva negra
do outono, que fugiu por
entre névoas e campos
devorados pela erva?

Esteve aqui — aqui dentro
de nós, como se sempre aqui
tivesse estado; e não a
ouvimos, como se não nos
falasse desde sempre,
aqui, dentro de nós.

E agora que a queremos ouvir,
como se a tivéssemos re-
conhecido outrora, onde está? A voz
que dança de noite, no inverno,
sem luz nem eco, enquanto
segura pela mão o fio
obscuro do horizonte.

Diz: "Não chores o que te espera,
nem desças já pela margem
do rio derradeiro. Respira,
numa breve inspiração, o cheiro
da resina, nos bosques, e
o sopro húmido dos versos."

Como se a ouvíssemos.

Nuno Júdice, in "Meditação sobre Ruínas"

E para descontrair...
Recebi por e-mail

12/11/2010

O teu nome

O teu nome - Miguel Gameiro

Só para afastar esta tristeza
para iluminar meu coração
falta-me bem mais tenho a certeza,
do que este piano e uma canção.
Falta me soltar na noite acesa
o nome que no peito me sufoca,
e queima a minha dor.
Falta-me solta-lo aos quatro ventos
para depois segui-lo por onde for,
ou entao dize-lo assim baixinho
embalando com carinho,
o teu nome, meu amor.
Porque todo ele é poesia,
corre pelo peito como um rio
devolve aos meus olhos a alegria
deixa no meu corpo um arrepio,
porque todo ele é melodia
porque todo ele é perfeição.
É na luz que vem.
Falta-me dize-lo lentamente
falta soletra-lo devagar,
ou então bebe-lo como um vinho,
que dá força pro caminho
quando a força faltar.
Falta-me solta-lo aos quatro ventos
para depois segui-lo por onde for,
ou então dize-lo assim baixinho
embalando com carinho,
o teu nome, meu amor.
Porque todo ele é melodia
e porque todo ele é perfeição.
É na luz que vem.
Falta-me solta-lo aos quatro ventos
para depois segui-lo por onde for,
ou então dize-lo assim baixinho
embalando com carinho,
o teu nome, meu amor.

07/11/2010

Poema de Amor: Carta (Esboço) – Nuno Júdice

Vermeer - Mulher lendo uma carta
Lembro-me agora que tenho de marcar um
encontro contigo, num sítio em que ambos
nos possamos falar, de facto, sem que nenhuma
das ocorrências de vida venha
interferir no que temos para nos dizer. Muitas
vezes me lembrei de que esse sítio podia
ser, um lugar sem nada de especial,
como um canto de café, em frente de um espelho
que poderia servir de pretexto
para reflectir a alma, a impressão da tarde,
o último estertor do dia antes de nos despedirmos,
quando é preciso encontrar uma fórmula que
disfarce o que, afinal, não conseguimos dizer. É
que o amor nem sempre é uma palavra de uso,
aquela que permite a passagem à comunicação
mais exacta de dois seres, a não ser que nos fale,
de súbito, o sentido da despedida, e que cada um de nós
leve, consigo, o outro, deixando atrás de si o próprio
ser, como se uma troca de almas fosse possível
neste mundo. Então, é natural que voltes atrás e
me peças: «Vem comigo!», e devo dizer-te que muitas
vezes pensei em fazer isso mesmo, mas era tarde,
isto é, a porta tinha-se fechado até outro
dia, que é aquele que acaba por nunca chegar, e então
as palavras caem no vazio, como nunca tivessem
sido pensadas. No entanto, ao escrever-te para marcar
um encontro contigo, sei que é irremediável o que temos
para dizer um ao outro: a confissão mais exacta, que
é também a mais absurda, de um sentimento; e, por
trás disso, a certeza de que o mundo há-de ser outro no dia
seguinte, como se o amor, de facto, pudesse mudar as cores
do céu, do mar, da terra, e do próprio dia em que nos vamos
encontrar, que há-de ser um dia azul, de verão, em que
o vento poderá soprar do norte, como se fosse daí
que viessem, nesta altura, as coisas mais precisas,
que são as nossas: o verde das folhas e o amarelo
das pétalas, o vermelho do sol e o branco dos muros.

A Ana que há em nós...

A 18 de Abril publiquei este post. Volto a publicá-lo porque me cruzei com outra "Ana". Afinal parece que existe um pouco da Ana em cada um de nós...
Diz-se que as conversas são como as cerejas. Umas levam a outras e quando damos por isso nem nos lembramos do que falávamos inicialmente.
Falo disto porque no outro dia encontrei-me com uma amiga que não via há muito. Telefonei-lhe a convidá-la para aproveitarmos o dia de sol com que esta tímida Primavera nos brindou.
Acabamos por jantar na Taberna do Chiado, um espaço que aprecio particularmente, e entre atropelos para mantermos a conversa em dia falamos da Ana. O que tem a Ana de especial?
Nada, a não ser a especificidade que é própria de cada um de nós, enquanto seres humanos. Na nossa maldade, intrínseca à juventude ou a cada um de nós, costumávamos apelidá-la de “lerda”. Confesso que por vezes a achava irritante, desinteressante e chata. Até um dia…
A Ana sempre foi tão banal como eu ou outra qualquer, não fora a particularidade de ser capaz de amar intensamente, acreditar no amor e ter esperança que um dia encontraria um príncipe encantado que a protegeria e faria feliz. Penso agora se, no mais íntimo do nosso ser, não achamos todas que isso é possível, mesmo quando a maturidade, o quotidiano e a frieza da vida nos mostram que esta é uma dança, por vezes desafinada, sem que necessariamente seja um drama.
Há muito tempo atrás, talvez 20 anos, a Ana soube que o seu grande amor se ia casar. Para ele, a Ana era a colega “especial” com quem brincava e até achava piada quando ela corava, assim que ele se aproximava. Para ela, ele representava o seu imaginário; a materialização dos personagens dos livros e dos filmes de amor que preenchiam o enorme vazio que crescia dentro dela.
Quando soube que ele ia casar, escreveu-lhe uma carta tão cheia de erros como de amor; não sei se inspirada na literatura ou se conseguiu materializar o que vivia dentro dela.
Uns riram-se, outros ficaram impávidos, eu, pela primeira vez, senti uma enorme ternura pela Ana.
Um dia encontrei-a, na sua inocência em corpo de mulher apressou-se a dizer-me: estou outra vez apaixonada. Queres saber quem é ele? Não queria mas ali fiquei a ouvi-la a descrever-me porque tinha a certeza que ele também a amava. Para fazer conversa perguntei-lhe: - então já esqueceste o Rui?
- Não devemos amar quem não nos ama; ele seguiu a sua vida e agora sei que não gostava de mim. Não achas um disparate uma mulher gostar de um homem que é feliz com outra?
A Ana foi mais sábia do que eu, não obstante a sua debilidade: declarou o seu amor, vestiu-se de preto no dia do casamento do Rui, tal como vira num filme, e depois seguiu a sua vida.
Não sei quantas vezes mais se apaixonou, desapaixonou, sofreu, chorou, acreditou ou partiu o seu coração, mas isso importa?
Porque falamos da Ana?
Disse-me a Luísa, que a tinha encontrado, já com alguns cabelos brancos, como quase todas nós, com o mesmo sorriso e brilho no olhar que sempre a caracterizou. Na paragem de autocarro segredou à Luísa, estás a ver aquele senhor ali? Encontro-o todos os dias e ele sorri para mim, não achas que me ama?
Mas isso foi antes, porque a Ana morreu. Eternamente apaixonada, sempre em busca do amor.
Um brinde à Ana e a todas as sábias “Anas” que conseguem sobreviver à derrota do amor, voltando a amar com o mesmo fervor como se fosse a primeira vez e nunca tivessem sido devastadas.

Uma Esperança

Aqui em casa pousou uma esperança. Não a clássica, que tantas vezes verifica-se ser ilusória, embora mesmo assim nos sustente sempre. Mas a outra, bem concreta e verde: o insecto.
Houve um grito abafado de um de meus filhos:
- Uma esperança! e na parede, bem em cima de sua cadeira! Emoção dele também que unia em uma só as duas esperanças, já tem idade para isso. Antes surpresa minha: esperança é coisa secreta e costuma pousar diretamente em mim, sem ninguém saber, e não acima de minha cabeça numa parede. Pequeno rebuliço: mas era indubitável, lá estava ela, e mais magra e verde não poderia ser.
- Ela quase não tem corpo, queixei-me.
- Ela só tem alma, explicou meu filho e, como filhos são uma surpresa para nós, descobri com surpresa que ele falava das duas esperanças.
Ela caminhava devagar sobre os fiapos das longas pernas, por entre os quadros da parede. Três vezes tentou renitente uma saída entre dois quadros, três vezes teve que retroceder caminho. Custava a aprender.
- Ela é burrinha, comentou o menino.
- Sei disso, respondi um pouco trágica.
- Está agora procurando outro caminho, olhe, coitada, como ela hesita.
- Sei, é assim mesmo.
- Parece que esperança não tem olhos, mamãe, é guiada pelas antenas.
- Sei, continuei mais infeliz ainda.
Ali ficamos, não sei quanto tempo olhando. Vigiando-a como se vigiava na Grécia ou em Roma o começo de fogo do lar para que não se apagasse.
- Ela se esqueceu de que pode voar, mamãe, e pensa que só pode andar devagar assim.
Andava mesmo devagar - estaria por acaso ferida? Ah não, senão de um modo ou de outro escorreria sangue, tem sido sempre assim comigo.
Foi então que farejando o mundo que é comível, saiu de trás de um quadro uma aranha. Não uma aranha, mas me parecia "a" aranha. Andando pela sua teia invisível, parecia transladar-se maciamente no ar. Ela queria a esperança. Mas nós também queríamos e, oh! Deus, queríamos menos que comê-la. Meu filho foi buscar a vassoura. Eu disse fracamente, confusa, sem saber se chegara infelizmente a hora certa de perder a esperança:
- É que não se mata aranha, me disseram que traz sorte...
- Mas ela vai esmigalhar a esperança! respondeu o menino com ferocidade.
- Preciso falar com a empregada para limpar atrás dos quadros - falei sentindo a frase deslocada e ouvindo o certo cansaço que havia na minha voz. Depois devaneei um pouco de como eu seria sucinta e misteriosa com a empregada: eu lhe diria apenas: você faz o favor de facilitar o caminho da esperança.
O menino, morta a aranha, fez um trocadilho, com o inseto e a nossa esperança. Meu outro filho, que estava vendo televisão, ouviu e riu de prazer. Não havia dúvida: a esperança pousara em casa, alma e corpo.
Mas como é bonito o inseto: mais pousa que vive, é um esqueletinho verde, e tem uma forma tão delicada que isso explica por que eu, que gosto de pegar nas coisas, nunca tentei pegá-la.
Uma vez, aliás, agora é que me lembro, uma esperança bem menor que esta, pousara no meu braço. Não senti nada, de tão leve que era, foi só visualmente que tomei consciência de sua presença. Encabulei com a delicadeza. Eu não mexia o braço e pensei: "e essa agora? que devo fazer?" Em verdade nada fiz. Fiquei extremamente quieta como se uma flor tivesse nascido em mim. Depois não me lembro mais o que aconteceu. E, acho que não aconteceu nada.
Clarice Lispector
Sobre o insecto: Esperança.
A esperança tem a vida breve apenas um verão. Ao chegar o Inverno morre por causa do frio.No final do outono, porém, pouco tempo antes de morrer a esperança coloca os ovos na terra, e estes mais resistentes conseguem sobreviver às baixas temperaturas.
Na primavera os filhotes(ninfas) saem dos ovos para continuar o ciclo de sua espécie.
As esperanças, tal como os seus "primos" grilos pertencem à ordem Orthopteras,   que reunem numerosas espécies entre elas o gafanhoto.

06/11/2010

Notícias do Zori

ACTUALIZAÇÃO 05/11/2010:
A semana está quase a finalizar e infelizmente até ao momento não obtive nenhum contacto quer para ficar em regime de FAT para a semana que ira entrar, nem mesmo um contacto de interessados em adoptar o Zori. O nome Zori quer dizer “sorte” em Língua Basca, mas até agora a única sorte que este lindo teve foi cruzar o meu caminho no estado em que se encontrava, pois parecer que ninguém se apaixona por ele :-(
Não sei se os contactos não surgiram por pensarem que o Zori precisa de tratamentos especiais, informo que o Zori está bem, esteve esta semana a fazer antibiótico e anti-inflamatório para as dores, amanha será visto pelo vet que o tratou, mas só e unicamente porque este o gostaria de ver e perceber se tudo correu da melhor forma. Portanto o futuro adoptante não terá qualquer despesa por causa do seu estado, os pontos são internos, e de resto é esperar que lhe nasça o pelo e fique ainda mais lindo do que aquilo que ele já é.
O único tratamento especial que o Zori precisa e não dispensa é atenção, mimos, carinho, companhia e amor.
Relativamente a despesa, gostaria de agradecer a todos os que se sensibilizaram com o caso do Zori e me ajudaram contribuindo para liquidar a despesa veterinária, aproveito também para informar que já foi angariado a totalidade do valor, agradeço façam circular o apelo afim de pararem com as contribuições.
Amanha vou ver se consigo novas fotos deste maluco :-)
Relembro os contactos para adopção: 911040816 / ajuda4patas@sapo.pt ou mensagem privada no facebook.
Encontra-se no Porto
Um bem haja a todos e um muito obrigado em nome do Zori.
Patrícia – Ajuda 4 Patas
http://www.facebook.com/ajudaquatro.patas#!/album.php?aid=44805&id=100000493779608&fbid=168547376505054

O único cartaz do Cavaco: "Custou-nos 4 mil milhões..."

E, porventura e desgraça, ainda não sabemos tudo sobre a fraude do século e suas adjacências.... QUE TEREMOS QUE PAGAR...
Cavaco Silva disse, na apresentação da sua recandidatura, que não vai haver um único cartaz/outdoor seu na próxima campanha.
 Eis o único Cartaz de Cavaco nas próximas eleições presidenciais:
Custou-nos 4 mil milhões....
Recebido por e-mail

04/11/2010

Ofício...

Faz o Governo saber que, até nova ordem, tendo em consideração a actual situação das contas públicas e como medida de contenção de despesas, a luz ao fundo do túnel será desligada.

02/11/2010

Quando os fantasmas nos visitam...

 
"fecharia os olhos sob os anéis dos astros e entre os violinos e os fortes poços da noite, descobriria a ardente ideia da minha vida."
herberto helder
Hoje só me apetecia ficar na minha varanda mágica a olhar o mar... depois a determinada altura o cérebro ficaria vazio, o coração de tanto doer deixava de se sentir, o vento trazia\as folhas que por ali queriam passar, a vida ficava tão leve e eu seguia em frente como se mágoa alguma me tivesse deixado a sua marca, como se tu nunca tivesses partido, ou como se tu e eu nunca tivéssemos sido nós, ou um só... como se esta tua ausência não fosse uma eterna perda.
E eu seguia em frente, tão leve, tão segura de mim, como se nada me pesasse, sem fantasmas, completa...
Hoje queria ter-te aqui, ao lado, na varanda. encostava a cabeça ao teu ombro e não falava, porque o silêncio entre nós era intenso em diálogos...
Se soubesses as saudades que tenho de ti. Não sabes, eu sei!
Ah! se não houvesse fantasmas...

Herberto Helder:
Há sempre uma noite terrível para quem se despede
do esquecimento. Para quem sai,
ainda louco de sono, do meio
do silêncio. Uma noite
ingénua para quem canta.
Deslocada e abandonada noite onde o fogo se instalou
que varre as pedras da cabeça.
Que mexe na língua a cinza desprendida.
E alguém me pede: canta.
Alguém diz, tocando-me com seu livre delírio:
canta até te mudares em cão azul,
ou estrela electrocutada, ou em homem
nocturno. Eu penso
também que cantaria para além das portas até
raízes de chuva onde peixes
cor de vinho se alimentam
de raios, seixos límpidos.
Até à manhã orçando
pedúnculos e gotas ou teias que balançam
contra o hálito.
Até à noite que retumba sobre as pedreiras.
Canta - dizem em mim - até ficares
como um dia órfão contornado
por todos os estremecimentos.
E eu cantarei transformando-me em campo
de cinza transtornada.
Em dedicatória sangrenta.
Há em cada instante uma noite sacrificada
ao pavor e à alegria.
Embatente com suas morosas trevas.
Desde o princípio, uma onde que se abre
no corpo, degraus e degraus de uma onda.
E alaga as mãos que brilham e brilham.
Digo que amaria o interior da minha canção,
seus tubos de som quente e soturno.
Há uma roda de dedos no ar.
A língua flamejante.
Noite, uma inextinguível
inexprimível
noite. Uma noite máxima pelo pensamento.
Pela voz entre as águas tão verdes do sono.
Antiguidade que se transfigura, ladeada
por gestos ocupados no lume.
Pedem tanto a quem ama: pedem
o amor. Ainda pedem
a solidão e a loucura.
Dizem: dá-nos a tua canção que sai da sombra fria.
E eles querem dizer: tu darás a tua existência
ardida, a pura mortalidade.
Às mulheres amadas darei as pedras voantes,
uma a uma, os pára-
-raios abertíssimos da voz.
As raízes afogadas do nascimento. Darei o sono
onde um copo fala fusiforme
batido pelos dedos. Pedem tudo aquilo em que respiro.
Dá-nos tua ardente e sombria transformação.
E eu darei cada uma das minhas semanas transparentes,
lentamente uma sobre a outra.
Quando se esclarecem as portas que rodam
para o lugar da noite tremendamente
clara. Noite de uma voz
humana. De uma acumulação
atrasada e sufocante.
Há sempre sempre uma ilusão abismada
numa noite, numa vida. Uma ilusão sobre o sono debaixo
do cruzamento do fogo.
Prodígio para as vozes de uma vida repentina.
E se aquele que ama dorme, as mulheres que ele ama
sentam-se e dizem:
ama-nos. E ele ama-as.
Desaperta uma veia, começa a delirar, vê
dentro de água os grandes pássaros e o céu habitado
pela vida quimérica das pedras.
Vê que os jasmins gritam nos galhos das chamas.
Ele arranca os dedos armados pelo fogo
e oferece-os à noite fabulosa.
Ilumina de tantos dedos
a cândida variedade das mulheres amadas.
E se ele acorda, então dizem-lhe
que durma e sonhe.
E ele morre e passa de um dia para outro.
Inspira os dias, leva os dias
para o meio da eternidade, e Deus ajuda
a amarga beleza desses dias.
Até que Deus é destruído pelo extremo exercício
da beleza.
Porque não haverá paz para aquele que ama.
Seu ofício é incendiar povoações, roubar
e matar,
e alegrar o mundo, e aterrorizar,
e queimar os lugares reticentes deste mundo.
Deve apagar todas as luzes da terra e, no meio
da noite aparecente,
votar a vida à interna fonte dos povos.
Deve instaurar o corpo e subi-lo,
lanço a lanço,
cantando leve e profundo.
Com as feridas.
Com todas as flores hipnotizadas.
Deve ser aéreo e implacável.
Sobre o sono envolvida pelas gotas
abaladas, no meio de espinhos, arrastando as primitivas
pedras. Sobre o interior
da respiração com sua massa
de apagadas estrelas. Noite alargada
e terrível terrível noite para uma voz
se libertar. Para uma voz dura,
uma voz somente. Uma vida expansiva e refluída.
Se pedem: canta, ele deve transformar-se no som.
E se as mulheres colocam os dedos sobre
a sua boca e dizem que seja como um violino penetrante,
ele não deve ser como o maior violino.
Ele será o único único violino
Porque nele começará a música dos violinos gerais
e acabará a inovação cantada.
Porque aquele que ama nasce e morre.
Vive nele o fim espalhado da terra. 

01/11/2010

Apelo...


 Só para dizer que a pessoa que faz isto não tem uma associação, fá-lo, simplesmente!

APELO 30/10/2010:
São muitos os casos que tenho tido a precisarem de ajudas veterinárias e tratamentos e infelizmente estamos em época de crise e as ajudas tem sido pouquíssimas.
Só rezava para que não me aparecesse à frente mais animais ou pelo menos animais que precisassem de acompanhamento veterinário, para que não tivesse que pedir ajudas e poder estabilizar as minhas finanças também, mas quem ajuda sabe que nunca conseguimos virar cara a mais um sofredor.
Hoje acordaram a pedirem-me ajuda para o menino das fotos (ZORI), quando cheguei ao local fiquei chocado com o estado daquele pobre animal, ele tem um grande corte a ver-se a carne no lombo e igualmente na pata dianteira direita, tem também outros ferimentos ligeiros mas sem gravidade pelo corpo todo, mas o do lombo e o da pata tinha que ser tratado com urgência, o vet acha que possa ter sido atropelado ou se tenha cortado com chapa ou algo semelhante, tinha também a espécie de uma hemorragia num dos olhos, está neste momento internado e irei busca-lo por volta das 16h a clínica. Este menino apesar do sofrimento em que se encontrava deixou-se aproximar e fazer festas e ate deixou-se ajudar, quando o tentamos meter no carro este não quis entrar para a mala, e fez questão de entrar para o banco de trás, fiquei com a sensação que ele estaria habituado a andar de carro. Não sei se estará perdido ou mesmo se terá sido mais um abandonado. Verificamos se teria Microchip mas infelizmente não tem.
As fotos foram tiradas de telemóvel a imagem não e boa, mas percebe-se a gravidade dos ferimentos,tentarei colocar melhores fotos mais logo.
Como sabem Ajuda 4 Patas não é associação pelo que não tenho instalações para acolher animais, preciso de uma FAT - Família de acolhimento temporário -  para este menino ou de preferencialmente um dono .
Quem quiser e puder dar o seu donativo para pagar a despesa do vet fica o meu NIB: 
0018 0000 32712893001 16 Santander Totta, enviem por favor comprovativo da transferência para o e-mail ajuda4patas@sapo.pt informando o v/ e-mail de forma a fazer chegar cópia das despesas.
Encontra-se no Porto.
Meu contactos: 911040816 / ajuda4patas@sapo.pt ou mensagem privada no facebook
ACTUALIZAÇÃO 30/10/2010 ÀS 17h30:
Estive a suplicar por FAT a tudo e todos que me lembrei, houve uma única resposta positiva, mas só poderá ter o Zori até 01/11 pois a filha foi para fora e a garagem esta de vago, a filha regressando quer voltar a ter a garagem livre.
O veterinário informou-me que ferimento no lombo estava demasiado profundo, em algumas partes chegou até ao osso.
Acabo de chegar do sítio que arranjei para o acolher estes 3 dias, está muito cabisbaixo, mas encontrava-se esfomeado comeu bastante ração, ficou deitadinho e embrulhado em cobertores, pois ele estava gelado e só tremia, terá agora que fazer antibiótico e anti-inflamatório durante uns dias e fazer curativos com Betadine e se Deus quiser ficara bom.
Em algumas das fotos são visíveis vários ferimentos leves que tem pelo corpo e orelhas, a coleira é em metal e encontra-se enferrujada, sinceramente não sei em que devo acreditar, se terá sido abandonado, se terá fugido…
Amigos partilhem o máximo possível, o Zori ficara sem lugar seguro daqui a 3 dias, preciso de FAT ou dono e ajudas para a conta do veterinário, que não foi tão pouca como isso, mas a hora de almoço foi o único que encontrei para poder socorrer o Zori.