12/12/2010

O açúcar...

Há muito tempo que não escrevo. Tentar fazer um doutoramento tem destas coisas; não escrevo o que gosto e também não estou a escrever o que devo ao ritmo que devia.
Gosto de visitar  outros blogues, ler e comentar o que escrevem, mas por estes tempos,está cada vez mais difícil.
Numa altura em que falta o açúcar fui à lata onde guardo os pacotinhos que trago do café  -  gosto da preciosa bebida  amarga - e foi quase como ir ao psicólogo; boas frases, sintéticas e algumas muito certeiras.
Eis alguns exemplos:
  •  Um dia fujo sem olhar para trás - vou estar uns dias ausente, longe do país, do computador, do telefone... 
  •  Um dia trocamos as lágrimas por sorrisos - é uma boa promessa para o novo ano...
  • Um dia vou parar, só para puder continuar - profunda, eu sei!
  • Um dia vou viajar sem ninguém saber. Eu queria, mas sempre acabei por avisar alguns...
  •  Um dia vais perceber o que é ter borboletas no estômago. - sem comentários...
  • Um dia apago todas as luzes do mundo para o meu coração te iluminar o caminho. - para quê?
  • Um dia escrevo para ti -  Já desisti..
  •  Um dia vou surfar nas ondas do paraíso. 
Não vou surfar, mas  até breve! (são só umas feriazitas...)

11/12/2010

Concertos de Natal 2010

Concertos de Natal 2010
5 a 19 Dez
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De volta às igrejas de Lisboa estão os Concertos de Natal, desta vez organizados pela EGEAC – Empresa de Gestão de Equipamentos e Animação Cultural. A Igreja de São Nicolau acolhe o primeiro concerto com um programa que inclui coros de O Messias de Händel e canções tradicionais portuguesas de Natal, de Fernando Lopes Graça, interpretados pelo Coro Sinfónico Lisboa Cantat. Durante cerca de quinze dias (5 a 19 de Dezembro) a música de vários agrupamentos e orquestras faz ecoar o espírito natalício. O Coro Regina Coeli, a Orquestra Sinfónica Juvenil, A Companhia de Ópera do Castelo e a Orquestra Filarmonia das Beiras, são alguns dos participantes desta iniciativa. O concerto de encerramento tem lugar na Igreja de São Domingos, pela Orquestra Portuguesa de Câmara – representante de uma nova geração de talentos musicais – e sob a direcção de Pedro Carneiro. Os programas escolhidos para os vários concertos incluem música sacra, hinos e cânticos natalícios, de nomes tão sonantes como Bach, Haydn e Tchaikovsky.

Programa:
IGREJA DE SÃO NICOLAU
R. da Vitória
218 879 549
Coro Sinfónico Lisboa Cantat
Jorge Carvalho Alves, direcção musical
5 Dez: 16h
IGREJA DA MADALENA
Lg. da Madalena, 1
218 870 987
Ensemble Peregrinação – Escola de Música do Conservatório Nacional
Teresita Gutierrez Marques, direcção musical
10 Dez: 21h30
IGREJA DA MEMÓRIA
Lg. da Memória
213 635 295
Grupo Coral do CEMM – Centro de Estudos Musicais da Maia
Fernando Teixeira, direcção musical; Marta Oliveira, piano
11 Dez: 16h
IGREJA DA GRAÇA
Lg. da Graça
218 873 943
Coro Regina Coeli & Orquestra Filarmonia das Beiras
António Vassalo Lourenço, direcção musical
12 Dez: 16h
BASÍLICA DA ESTRELA
Pç. da Estrela
213 960 915
Orquestra Sinfónica Juvenil
17 Dez: 21h30
IGREJA DE SANTO AGOSTINHO
R. Direita de Marvila, 9-A
Companhia de Ópera do Castelo
18 Dez: 16h
IGREJA DE SÃO DOMINGOS
Lg. de São Domingos
213 428 275
Orquestra de Câmara Portuguesa
Pedro Carneiro, direcção musical
19 Dez: 16h
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Informações Úteis: Entrada Livre218 820 090 (EGEAC)


10/12/2010

Natal à Beira-rio


Reencontrei este poema, por acaso. mesmo sem apreciar o Natal aqui fica:


É o braço do abeto a bater na vidraça?
E o ponteiro pequeno a caminho da meta!
Cala-te, vento velho! É o Natal que passa,
A trazer-me da água a infância ressurrecta.
Da casa onde nasci via-se perto o rio.
Tão novos os meus Pais, tão novos no passado!
E o Menino nascia a bordo de um navio
Que ficava, no cais, à noite iluminado...
Ó noite de Natal, que travo a maresia!
Depois fui não sei quem que se perdeu na terra.
E quanto mais na terra a terra me envolvia
E quanto mais na terra fazia o norte de quem erra.
Vem tu, Poesia, vem, agora conduzir-me
À beira desse cais onde Jesus nascia...
Serei dos que afinal, errando em terra firme,
Precisam de Jesus, de Mar, ou de Poesia?
 

in "Obra Poética 1948-1988" de David Mourão-Ferreira

05/12/2010

DOS AFECTOS - Mario Benedetti

 
Como fazer-te saber que há sempre tempo?

Que temos que buscá-lo e dá-lo…
Que ninguém estabelece normas, senão a vida…
Que a vida sem certas normas perde formas…
Que a forma não se perde com abrirmo-nos…
Que abrirmo-nos não é amar indiscriminadamente…
Que não é proibido amar…
Que também se pode odiar…
Que a agressão porque sim, fere muito…
Que as feridas fecham-se…
Que as portas não devem fechar-se…
Que a maior porta é o afecto…
Que os afectos definem-nos…
Que definir-se não é remar contra a corrente…
Que não quanto mais se carrega no traço mais se desenha…
Que negar palavras é abrir distâncias…
Que encontrar-se é lindo…
Que o sexo faz parte da lindeza da vida…
Que a vida parte do sexo…
Que o porquê das crianças tem o seu porquê…
Que querer saber de alguém não é só curiosidade…
Que saber tudo de todos é curiosidade malsã…
Que nunca é demais agradecer…
Que autodeterminação não é fazer as coisas sozinho…
Que ninguém quer estar só…
Que para não estar só há que dar…
Que para dar devemos antes receber…
Que para nos darem há também que saber pedir…
Que saber pedir não é oferecer-se…
Que oferecer-se, em definitivo, não é querer-se…
Que para nos quererem devemos mostrar quem somos…
Que para alguém ser é preciso dar-lhe ajuda…
Que ajudar é poder dar ânimo e apoiar…
Que adular não é apoiar…
Que adular é tão pernicioso como virar a cara…
Que as coisas cara a cara são honestas…
Que ninguém é honesto por não roubar…
Que quando não se tira prazer das coisas não se vive…
Que para sentir a vida temos de esquecer que existe a morte…
Que se pode estar morto em vida…
Que sentimos com o corpo e a mente…
Que com os ouvidos se escuta…
Que custa ser sensível e não se ferir…
Que ferir-se não é sangrar…
Que para não nos ferirmos levantamos muros…
Que melhor seria fazer pontes…
Que por elas se vai à outra margem e ninguém volta…
Que voltar não implica retroceder…
Que retroceder também pode ser avançar…
Que não é por muito avançar que se amanhece mais perto do sol…
Como fazer-te saber que ninguém estabelece normas, senão a vida?

 A versão original:
DESDE LOS AFECTOS
Cómo hacerte saber que siempre hay tiempo?
Que uno tiene que buscarlo y dárselo...
Que nadie establece normas, salvo la vida...
Que la vida sin ciertas normas pierde formas...
Que la forma no se pierde con abrirnos...
Que abrirnos no es amar indiscriminadamente...
Que no está prohibido amar...
Que también se puede odiar...
Que la agresión porque sí, hiere mucho...
Que las heridas se cierran...
Que las puertas no deben cerrarse...
Que la mayor puerta es el afecto...
Que los afectos, nos definen...
Que definirse no es remar contra la corriente...
Que no cuanto más fuerte se hace el trazo, más se dibuja...
Que negar palabras, es abrir distancias...
Que encontrarse es muy hermoso...
Que el sexo forma parte de lo hermoso de la vida...
Que la vida parte del sexo...
Que el por qué de los niños, tiene su por qué...
Que querer saber de alguien, no es sólo curiosidad...
Que saber todo de todos, es curiosidad malsana...
Que nunca está de más agradecer...
Que autodeterminación no es hacer las cosas solo...
Que nadie quiere estar solo...
Que para no estar solo hay que dar...
Que para dar, debemos recibir antes...
Que para que nos den también hay que saber pedir...
Que saber pedir no es regalarse...
Que regalarse en definitiva no es quererse...
Que para que nos quieran debemos demostrar qué somos...
Que para que alguien sea, hay que ayudarlo...
Que ayudar es poder alentar y apoyar...
Que adular no es apoyar...
Que adular es tan pernicioso como dar vuelta la cara...
Que las cosas cara a cara son honestas...
Que nadie es honesto porque no robe...
Que cuando no hay placer en las cosas no se está viviendo...
Que para sentir la vida hay que olvidarse que existe la muerte...
Que se puede estar muerto en vida..
Que se siente con el cuerpo y la mente...
Que con los oídos se escucha...
Que cuesta ser sensible y no herirse...
Que herirse no es desangrarse...
Que para no ser heridos levantamos muros...
Que sería mejor construir puentes...
Que sobre ellos se van a la otra orilla y nadie vuelve...
Que volver no implica retroceder...
Que retroceder también puede ser avanzar...
Que no por mucho avanzar se amanece más cerca del sol...
Cómo hacerte saber que nadie establece normas, salvo la vida?


Mario Benedetti


01/12/2010

Dos Homens e dos Deuses

Tenho andado muito cheia de trabalho, sem tempo para nada. Há muito que não ia ao cinema, sequer.
Ontem combinamos fazê-lo depois do trabalho.O regresso a casa afigurava-se difícil devido ao trânsito. Fomos até ao King e apenas nós estávamos na sala. Valeu a pena, porque o filme mexeu connosco.
Dos Homens e dos Deuses, é um filme que recomendo. Embora esteja em outras salas, o King será sempre a minha sala de eleição.


"Em 1996, sete monges da Ordem Cisterciense da Estrita Observância são raptados e assasinados em Tibhirine, aldeia aninhada na região argelina do Magrebe. É o culminar da escalada de violência que opõe o Grupo Islâmico Armado (GIA), extremista, ao governo que acusa de corrupto. O impacto deste horrível desaparecimento, cujos contornos exatos estão ainda por esclarecer, extende-se até aos nossos dias, levado agora ao cinema sob direção do realizador francês Xavier Beauvois.
A obra, reconhecida com o Grande Prémio do Festival de Cannes e merecedora da forte e comovida chuva de aplausos que encheram o Palais des Festivals na noite do passado 23 de maio, é uma extraordinária ode à fé, ao amor ao próximo e ao espírito de serviço que cumpre, em estilo e estrutura narrativa, o despojamento do seu sujeito.
Com efeito, é-nos dado comungar a forma abnegada como uma comunidade de homens lida com uma realidade adversa para a qual não contribui senão com a sua vocação de amor e dádiva. Uma vocação reafirmada ao arrepio das pressões externas para abandonarem a aldeia que servem à sua sorte.
Sem ceder a tentações sensacionalistas, Beauvois desvenda aos nossos olhos o dia-a-dia daquele pequeno mosteiro de Tibhirine, dos seus sete habitantes e da pacata população da aldeia local, induzindo progressivamente o adensar do contexto violento que involuntariamente envolve uns e outros.Simples e acessível, a linguagem fílmica pretere o horror dos acontecimentos, trágicos, e da crescente violência, ao espírito com que aquela irmandade os enfrenta. Um espírito sustentado na sua extraordinária força e revitalizado na dúvida e fraqueza pela oração, pelo permanente desejo de união e comunhão, pelo tempo e oportunidade concedidos ao discernimento.
Mais que um nefasto episódio da história política ou religiosa, estamos perante uma obra que nos propõe um caminho, pela busca do verdadeiro sentido da vida: o que os sete monges sacrificados, na sua fé cristã, encontraram, e que Xavier Beauvois tão bem percorre, alumiando-o para crentes e não crentes." Texto daqui

Todo o filme é um desafio ao nosso modelo de vida.
O momento em que os monges ligam o gravador e bebem um vinho não produzido por eles - um luxo - fá-los chorar, porque naquele momento são apenas humanos.
Título Original: Des hommes et des dieux
Intérpretes: Lambert Wilson, Michael Lonsdale, Olivier Rabourdin, Philippe Laudenbach
Realização: Xavier Beauvois
Género: Drama
Ficha Técnica: Duração: 2h2m | Origem: FRA