30/04/2011

"A gente assim lixa-o"...

Subia para o barco quando ouvi a frase "A gente assim lixa-o". Era um senhor ao telemóvel. Não sei o contexto mas sei que a frase ecoou em mim ao longo dia. Uma frase que soa, quanto a mim,  ao pior que o ser humano tem dentro de si.
Quem seria a vítima? um colega, um amigo? seria realmente vítima?
De que massa  somos nós feitos, ou alguns de nós - para sentirmos satisfação perante tal afirmação "a gente assim lixa-o...". Claro que é apenas uma frase fora de contexto, mas assustou-me.
Quiçá por trás desta frase até pode haver justiça, porém, dita assim e escutada de uma forma isolada pelos meus ouvidos, descodificada pelo meu cérebro desencadeou uma série de pensamentos sobre os sentimentos.
Todos querem vencer, todos querem marcar "pontos", ficar por cima...
Deixamos de ensinar valores básicos e essenciais para a estrutura de cada um, enquanto humanos. Muitas culturas, desde cedo, ensinam às suas crianças a conviver com a morte. Sim, somos mortais!
À escala do planeta, 80 ou 90 anos de vida não representa nada; para nós é uma vida. Porque não torná-la mais digna, começando por nos tornar mais dignos em termos de sentimentos e atitudes.
"A gente assim lixa-o..." é uma frase forte, como um presságio. Hitler terá dito, sobre os judeus, "vamos exterminá-los?"; era megalómanos, sobre algum amigo terá dito "vou lixá-lo?."
Estou a ler "Tudo o que eu tenho trago comigo"; talvez o sr do barco o devesse ler, todos o devíamos ler para que não esqueçamos que, quando o universo quer, frases como "a gente assim lixa-o" podem perder o significado ou não ter qualquer peso.
O lado do vencedor e o lado do vencido, do lixado e do lixador são tão díspares...Nada com o nos colocarmos sempre no outro lado.

07/04/2011

A factura chega sempre


As facturas chegam sempre.  A do facilitismo foi chegando de mansinho mas ninguém lhe ligou- Foi como um cancro que quando se descobre já é tarde demais.
Recebi este texto por e-mail, desconheço o autor se alguém o conhecer, por favor informe-me para que o possa identificar. 
Obrigada

A geração dos meus pais não foi uma geração à rasca.
Foi uma geração com capacidade para se desenrascar.
Numa terriola do Minho as condições de vida não eram as melhores.
Mas o meu pai António não ficou de braços cruzados à espera do Estado ou de quem quer que fosse para se desenrascar.
Veio para Lisboa, aos 14 anos, onde um seu irmão, um pouco mais velho, o Artur, já se encontrava. Mais tarde veio o Joaquim, o irmão mais novo.
Apenas sabendo tratar da terra e do pastoreio, perdidos na grande e desconhecida Lisboa, lançaram-se à vida.
Porque recusaram ser uma geração à rasca fizeram uma coisa muito simples.
Foram trabalhar.
Não havia condições para fazerem o que sabiam e gostavam.
Não ficaram à espera.Foram taberneiros. Foram carvoeiros. Fizeram milhares de bolas de carvão e serviram milhares de copos de vinho ao balcão.
Foram simples empregados de tasca.
Mas pouparam.
E quando surgiu a oportunidade estabeleceram-se como comerciantes no ramo.
Cada um à sua maneira foram-se desenrascando.
Porque sempre assumiram as suas vidas pelas suas próprias mãos.
Porque sempre acreditaram neles próprios.

E nós, eu e os meus primos, nunca passámos por necessidades básicas.
Nós, eu e os meus primos, sempre tivémos a possibilidade de acesso ao ensino e à formação como ferramentas para o futuro.
Uns aproveitaram melhor, outros nem tanto, mas todos tiveram as condições que necessitaram.
E é este o exemplo de vida que, ainda hoje, com 60 anos, me norteia e me conduz.

Salvaguardadas as diferenças dos tempos mantenho este espírito.
Não preciso das ajudas do Estado.
Porque o meu pai e tios também não precisaram e desenrascaram-se.
Não preciso das ajudas da família que também têm as suas próprias vidas.
Não preciso das ajudas dos vizinhos e amigos.
Porque o meu pai e tios também não precisaram e desenrascaram-se.
Preciso de mim.
Só de mim.
E, por isso, não sou, nunca fui, de qualquer geração à rasca.
Porque me desenrasco.
Porque sempre me desenrasquei.
O mal desta auto-intitulada geração à rasca é a incapacidade que revelam.
Habituados, mal habituados, a terem tudo de mão beijada.
Habituados, mal habituados, a não precisarem de lutar por nada porque tudo lhes foi sendo oferecido.
Habituados, mal habituados, a pensarem que lhes bastaria um canudo de um qualquer curso dito superior para terem garantida a eterna e fácil prosperidade.
Sentem-se desiludidos.
E a culpa desta desilusão é dos "papás" que os convenceram que a vida é um mar de rosas.
Mas não é.
É altura de aprenderem a ser humildes.
É altura de fazerem opções.
Podem ser "encanudados" de qualquer curso mas não encontram emprego "digno".
Podem ser "encanudados" de qualquer curso mas não conseguem ganhar o dinheiro que possa sustentar, de imediato, a vida que os acostumaram a pensar ser facilmente conseguida.
Experimentem dar tempo ao tempo, e entretanto, deitem a mão a qualquer coisa.
Mexam-se.
Trabalhem.
Ganhem dinheiro.
Na loja do Shopping.
Porque não ?
Aaaahhh porque é Doutor...
Doutor em loja de Shopping não dá status social.
Pois não.
Mas dá algum dinheiro.
E logo chegará o tempo em que irão encontrar o tal e ambicionado emprego "digno".
O tal que dá status.
O meu pai e tios fizeram bolas de carvão e venderam copos de vinho.
Eu, que sou Informático, System Engineer, em alturas de aperto, vendi bolos, calças de ganga, trabalhei em cafés, etc.
E garanto-vos que sou hoje muito melhor e mais reconhecido socialmente do que se sempre tivesse tido a papinha toda feita.
Geração à rasca ?
Vão trabalhar que isso passa.

05/04/2011

Eu sei, mas não devia



Eu sei que a gente se acostuma. Mas não devia.
A gente se acostuma a morar em apartamento de fundos
e a não ter outra vista que não seja as janelas ao redor.

E porque não tem vista, logo se acostuma a não olhar para fora.
E porque não olha para fora logo se acostuma a não abrir de todo as cortinas.
E porque não abre as cortinas logo se acostuma acender mais cedo a luz.
E a medida que se acostuma, esquece o sol, esquece o ar, esquece a amplidão.

A gente se acostuma a acordar de manhã sobressaltado porque está na hora.
A tomar café correndo porque está atrasado.
A ler jornal no ônibus porque não pode perder tempo da viagem.
A comer sanduíche porque não dá pra almoçar.
A sair do trabalho porque já é noite.
A cochilar no ônibus porque está cansado.
A deitar cedo e dormir pesado sem ter vivido o dia.

A gente se acostuma a abrir o jornal e a ler sobre a guerra.
E aceitando a guerra, aceita os mortos e que haja número para os mortos.
E aceitando os números aceita não acreditar nas negociações de paz,
aceita ler todo dia da guerra, dos números, da longa duração.

A gente se acostuma a esperar o dia inteiro e ouvir no telefone: hoje não posso ir.
A sorrir para as pessoas sem receber um sorriso de volta.
A ser ignorado quando precisava tanto ser visto.
A gente se acostuma a pagar por tudo o que deseja e o de que necessita.
A lutar para ganhar o dinheiro com que pagar.

E a ganhar menos do que precisa.
E a fazer filas para pagar.
E a pagar mais do que as coisas valem.
E a saber que cada vez pagará mais.
E a procurar mais trabalho, para ganhar mais dinheiro, para ter com que pagar nas filas que se cobra.

A gente se acostuma a andar na rua e a ver cartazes.
A abrir as revistas e a ver anúncios.
A ligar a televisão e a ver comerciais.
A ir ao cinema e engolir publicidade.
A ser instigado, conduzido, desnorteado, lançado na infindável catarata dos produtos.
A gente se acostuma à poluição.

As salas fechadas de ar condicionado e cheiro de cigarro.
A luz artificial de ligeiro tremor.
Ao choque que os olhos levam na luz natural.
Às bactérias da água potável.
A contaminação da água do mar.
A lenta morte dos rios.

Se acostuma a não ouvir o passarinho, a não ter galo de madrugada, a temer a hidrofobia dos cães,
a não colher fruta no pé, a não ter sequer uma planta.
A gente se acostuma a coisas demais para não sofrer.

Em doses pequenas, tentando não perceber, vai se afastando uma dor aqui,
um ressentimento ali, uma revolta acolá.
Se o cinema está cheio a gente senta na primeira fila e torce um pouco o pescoço.
Se a praia está contaminada a gente só molha os pés e sua no resto do corpo.

Se o trabalho está duro, a gente se consola pensando no fim de semana.
E se no fim de semana não há muito o que fazer a gente vai dormir cedo
e ainda fica satisfeito porque tem sempre sono atrasado.

A gente se acostuma para não se ralar na aspereza, para preservar a pele.
Se acostuma para evitar feridas, sangramentos, para esquivar-se
da faca e da baioneta, para poupar o peito.
A gente se acostuma para poupar a vida que aos poucos se gasta e, que gasta,
de tanto acostumar, se perde de si mesma.
Marina Colasanti

04/04/2011

Algodão doce

Durante muito tempo só tinha acesso a algodão-doce quando ia à feira de Maio ou de Agosto.
Como qualquer criança ansiava por estes momentos e por isso juntava todos os tostões para perfazer 2$50. Quando lá chegava era a primeira coisa que queria comprar, mas bastante refreada pelo meu pai ou pela minha avó. A aquisição do algodão doce tinha um senão, era sempre dividido com a minha irmã e ambas queríamos segurar no dito, como forma de demonstrar o sentido de posse.
Da barraca do Algodão doce
saia num som roufenho a voz de Joel Branco "O Mundo é uma bola de algodão que está na nossa mão fazer feliz...". O percurso até esta parte da feira era enorme. Primeiro havia que ver tudo o que o meu pai queria...
Um dia, por qualquer motivo, a minha irmã não foi à feira e, eu consegui um algodão-doce só para mim. lembro-me do cheiro que emanava da máquina, da sensação de espera enquanto a mão do feirante rodava o pau em torno do doce algodão que saia da máquina, até tornar o meu desejo realidade.
Estava tão feliz que nem cabia em mim, saboreava e admirava o meu algodãoe cor-de-rosa sentindo-me uma princesa; eis quando passa um rapaz da feira e deita a mão ao meu algodão-doce, deixando-me com um niquinho agarrado ao pau.
Fiquei em estado de choque, nem conseguia chorar, olhava para o que sobrava e um misto de injustiça apoderou-se de mim. O meu pai ainda comentou então não comes isso? e eu que adorava o petisco senti um misto de nojo por aquela mão que por ali passou e uma sensação de devassidão por o roubo de algo que me era tão desejado.
Só voltei a comer algodão doce, já deixava a adolescência, num dia que fui à feira Popular de Lisboa.
Mais do que a sensação de roubo foi a sensação de alguém estragar o "meu momento", de devassar esse momento sagrado. Voltei a senti-lo anos mais tarde por motivos muito diferentes.
Não voltei a comer algodão doce, não voltei a acreditar no amor.
Ainda sabemos cantar
Eugénio de Andrade

Ainda sabemos cantar, 
só a nossa voz é que mudou: 
somos agora mais lentos, 
mais amargos, 
e um novo gesto é igual ao que passou. 

Um verso já não é a maravilha, 

um corpo já não é a plenitude

03/04/2011

O Adamastor dentro de nós...

Gosto de Lisboa. Tem locais tão encantadores...
Gosto da esplanada o Adamastor. A vista sobre o rio é soberba e desfrutar do espaço é um prazer.
Na 6ª feira antes de vir para casa combinamos um "copo" no Adamastor. Foram aparecendo os amigos e os amigos dos amigos. Soube bem. Ainda estava sol e a temperatura amena.
O espaço estava cheio de turistas, jovens da geração à rasca e de "cotas" como eu. É intemporal esta esplanada...
Gosto de quebrar as rotinas, aproveitar os momentos bons que a vida  permite vivenciar; saboreá-los e não pensar em mais nada.
Poema sobre a recusa
Maria Teresa Horta
Como é possível perder-te
Sem nunca te ter achado 
Nem na polpa dos meus dedos 
Se ter formado o afago 
Sem termos sido a cidade 
Nem termos rasgado pedras 
Sem descobrirmos a cor 
Nem o interior da erva. 
Como é possível perder-te 
Sem nunca te ter achado 
Minha raiva de ternura 
Meu ódio de conhecer-te 
Minha alegria profunda.

Campanha da Super Bock

E para desanuviar...


Um tipo levou a namorada para uma praia deserta. Desaperta-lhe o top do biquini e ela começa a refilar porque ali não dava jeito, que havia muita areia, que ainda se arranhavam e ia entrar areia por todo o lado, etc... O rapaz disse então: - Calma! Não há nada que não se resolva!!!
E foi ao carro buscar uma grande toalha da Super Bock,que estendeu. A namorada deitou-se em cima da toalha. Ao puxar-lhe a cueca do biquini, uma rajada de vento levantou a ponta da toalha e ela reage novamente, dizendo que se iam encher de areia, que a toalha voava, que se arranhavam, etc... E ele: - Calma! Tudo se resolve.
Foi ao carro e trouxe 4 latas de Super Bock, colocando uma em cada canto da toalha, para esta não esvoaçar. Como ela estava sempre a implicar com tudo, teve a ideia de trazer também uma venda do carro e para lhe pôr á volta dos olhos. Continuaram...
Já a rapariga estava nua, quando perguntou: - Trouxeste preservativo?
E o namorado: - Aqui não tenho, vou buscar ao carro.
Enquanto foi ao carro, passou um gajo que andava a fazer 'jogging'. Ao deparar com a tipa nua e vendada, deitada na toalha, primeiro aproxima-se, começa a mexer e, como ela não se nega, não hesita e 'por aqui me sirvo': salta-lhe para cima!!!

Após ter comido a menina, afasta-se e diz: - F***-se! Com uma campanha destas, agora é que eles rebentam mesmo com os gajos da Sagres...
Desculpem a publicidade



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