25/09/2011

Redacção

Numa altura em que a crise veio para ficar, o Alberto João Jardim foi tema de inúmeros comentários, muitos  animais foram abandonados e maltratados, Espanha comemora o fim dos touros de morte e o meu Sporting fez a gracinha de vencer em casa, parece mentira não ter inspiração para escreve.
Esta branca para a escrita faz-me lembrar o tempo das Redacções.
Esta lembrança fez-me sorrir e até me pareceu ouvir a minha professora: - o tema da redacção é sobre as estações do ano.
E ali começava a árdua tarefa de escrever:
Redacção
A Primavera começa a 21 de Março. A Primavera é a estação das andorinhas.
E a D. Maria José passeava pelo corredor, ao aproximar-se da minha carteira eu tremia e ela dizia: onde está a imaginação. Puxem pela cabeça e escrevam algo mais criativo. 
Eu puxava pela cabeça, procurava pensar em coisas diferentes, mas sobre a Primavera não me ocorria mais nada.
As andorinhas fazem os ninhos nos beirais das casas. Eu gosto muito da Primavera porque é a estação das flores…
Na altura se já conhecesse Neruda poderia citar o seu poema:
Quero apenas cinco coisas.
Primeiro é o amor sem fim
A segunda é ver o Outono
A terceira é o grave inverno
Em quarto lugar o verão
A quinta coisa são teus olhos
Não quero dormir sem teus olhos.
Não quero ser... sem que me olhes.
Abro mão da primavera para que continues me olhando.
Pablo Neruda

21/09/2011

A comunicação


"A mensagem é, no sentido geral, o objecto da comunicação. Dependendo do contexto, o termo pode-se aplicar tanto ao conteúdo da informação quanto à sua forma de apresentação. Na teoria da comunicação, uma mensagem é enviada de um emissor para um receptor."
Enquanto humanos temos o dom da palavra, isto é, podemos expressar as nossas opiniões e explicar-nos por meio da fala. 
À priori, temos todas as premissas para que não haja qualquer confusão, ao nível do diálogo, entre os seres humanos.
Para aprimorar esta capacidade para o diálogo, que nos foi oferecida gratuitamente e é intrínseca ao ser humano, a tecnologia ainda pôs ao nosso alcance telefones, telemóveis, mails, videoconferências e mais um rol de objectos com vista à "boa comunicação".
Alguém me sabe explicar porque é cada vez mais difícil as pessoas entenderem-se e comunicarem?
Que barreiras são estas que fazem com que se criem mal entendidos e a spessoas não consigam viver em paz e harmonia?
Nunca estivemos tão bem!
Para a maioria de nós, há electricidade, água, acesso à saúde, alimentação sem termos que esgravatar na terra, temos conforto, acesso à cultura, sabemos ler, vivemos em paz... então porque não vivemos pacificamente?

20/09/2011

Que cavalos são aqueles que fazem sombra no mar...


Lembro-me desta frase muitas vezes. Por diferentes motivos, mas sinto-a muits vezes como verdadeira.
Voltei a sentir a sua veracidade ao longo destas férias. Nada aconteceu como planeado. Pouco fiz do que imaginei. Porém, não posso dizer que tenham sido más as férias, só foram diferentes.
Comecei por ter uma cadela, que hoje está feliz numa nova casa, e desde 6ª feira tenho (não difinitivamente, espero) mais uma gata. 300g de um ser que abandonaram ao pé da minha casa. Ando à procura de dono para ela, entretanto não deixa de ser interessante verificar como um naco de ser tem tanto amor à vida.
Está tão feliz por ter comida e casa que, quando chego a casa é acometida de uma energia impressionante.
Já eu, ando com tão pouco energia e tão espantada e desiludida com a humanidade que me pergunto como é possível ainda me  ir abaixo com acções dos humanos.
Houve um tempo, já lá vão alguns anos, em que julguei que nada mais me magoaria. Engano meu, a vida está sempre pronta para nos dar um pontapé, basta apenas descuidarmo-nos um pouco.
Faço cócegas à vida mas parece que ela é insensível e teima em não se rir para mim... bem, mas  a verdade é que tenho que continuar grata. Grata por tanta coisa, mas bolas já era tempo de tudo se encaixar, ou melhor já er atempo de eu aprender como o cavalo na parada "cagando e andando, sempre de cabeça erguida, como se nada fosse..."
Não sou dada a palavraões mas hoje só me apetece dizer FODA-SE!
Plano
Trabalho o poema sobre uma hipótese: o amor
que se despeja no copo da vida, até meio, como se
o pudéssemos beber de um trago. No fundo,
como o vinho turvo, deixa um gosto amargo na
boca. Pergunto onde está a transparência do
vidro, a pureza do líquido inicial, a energia
de quem procura esvaziar a garrafa; e a resposta
são estes cacos, que nos cortam as mãos, a mesa
da alma suja de restos, palavras espalhadas
num cansaço de sentidos. Volto, então, à primeira
hipótese. O amor. Mas sem o gastar de uma vez,
esperando que o tempo encha o copo até cima,
para que o possa erguer à luz do teu corpo
e veja, através dele, o teu rosto inteiro.

Nuno Júdice, in “Poesia Reunida”

11/09/2011

Poema do silêncio

Em memória de todas as vítimas que directa e indirectamente o 11 de Setembro provocou, fico-me pela poesia


Sim, foi por mim que gritei.
Declamei,
Atirei frases em volta.
Cego de angústia e de revolta.

Foi em meu nome que fiz,
A carvão, a sangue, a giz,
Sátiras e epigramas nas paredes
Que não vi serem necessárias e vós vedes.

Foi quando compreendi
Que nada me dariam do infinito que pedi,
- Que ergui mais alto o meu grito
E pedi mais infinito!

Eu, o meu eu rico de baixas e grandezas,
Eis a razão das épi trági-cómicas empresas
Que, sem rumo,
Levantei com sarcasmo, sonho, fumo...

O que buscava
Era, como qualquer, ter o que desejava.
Febres de Mais. ânsias de Altura e Abismo,
Tinham raízes banalíssimas de egoísmo.

Que só por me ser vedado
Sair deste meu ser formal e condenado,
Erigi contra os céus o meu imenso Engano
De tentar o ultra-humano, eu que sou tão humano!

Senhor meu Deus em que não creio!
Nu a teus pés, abro o meu seio
Procurei fugir de mim,
Mas sei que sou meu exclusivo fim.

Sofro, assim, pelo que sou,
Sofro por este chão que aos pés se me pegou,
Sofro por não poder fugir.
Sofro por ter prazer em me acusar e me exibir!

Senhor meu Deus em que não creio, porque és minha criação!
(Deus, para mim, sou eu chegado à perfeição...)
Senhor dá-me o poder de estar calado,
Quieto, maniatado, iluminado.

Se os gestos e as palavras que sonhei,
Nunca os usei nem usarei,
Se nada do que levo a efeito vale,
Que eu me não mova! que eu não fale!

Ah! também sei que, trabalhando só por mim,
Era por um de nós. E assim,
Neste meu vão assalto a nem sei que felicidade,
Lutava um homem pela humanidade.

Mas o meu sonho megalómano é maior
Do que a própria imensa dor
De compreender como é egoísta
A minha máxima conquista...

Senhor! que nunca mais meus versos ávidos e impuros
Me rasguem! e meus lábios cerrarão como dois muros,
E o meu Silêncio, como incenso, atingir-te-á,
E sobre mim de novo descerá...

Sim, descerá da tua mão compadecida,
Meu Deus em que não creio! e porá fim à minha vida.
E uma terra sem flor e uma pedra sem nome
Saciarão a minha fome.

José Régio, in 'As Encruzilhadas de Deus'

08/09/2011

Amar também é abdicar


A vida põe-me à prova das diferentes formas e feitios. Não sei como as outras pessoas interpretam os acontecimentos da vida, mas eu sinto que esta é uma aprendizagem constante, um desafio...
Todos sabem a minha adoração por animais e o que sofro por não puder fazer mais.
Conheço pessoas que fazem coisas tão espectaculares que acho sempre pouco o que eu faço.
Não resistindo ao olhar da Pilar, cadela que se encontrava no Cantinho dos Animais de Beja  resolvi ir buscá-la e tentar adaptá-la aos gatos.

Foto da Pilar a solicitar ajuda
Abdiquei da semana de férias no Algarve e lá solicitei a vinda da Jasmim (sim quando olhei para ela vi Jasmim). Um ser tão frágil e com um olhar carregado de tristeza. Ao contrário do que estava à espera foi impecável com os gatos.
Estava assustada e por isso dava pouca confiança. Fazia-lhe festas os seus olhos fechavam-se. Uma ternura. Sozinha fazia tantos disparates.. mas nunca me zanguei com ela, sabia que era passageiro e reflexo do seu passado. Tinha tanto medo do quintal que o destruiu... Só na sala se acalmava.
Continuava triste e eu sentia que ela não estava feliz. Ia comigo à esplanada e portava-se lindamente, passeávamos pela rua e ela adorava, ia a casa de amigos e ficava com aquela tristeza... mas sempre bem comportada.
Jasmim em casa
As férias estão a acabar e a minha preocupação era com a Jasmim. Sabia que não a devolveria mas sentia que ela não estava feliz. Pedi tanto a Deus que me ajudasse a fazer o melhor pela Jasmim.
Na 2ª feita telefona-me uma amiga que queria uma cadelinha, pensei na Jasmim. E se ela fosse mais feliz lá? mas será que a estou a abandonar? o que é melhor para ela?
Jasmim na esplanada
Na 3ª feira combinámos encontrar-nos, já tinha decidido que não era capaz de a entregar (ela chegou 6ª feira à noite mas foram dias de intensidade em que ela era o centro das atenções). Disse-lhe que não seria capaz de entregar a cadela. Diz-me ela: anda ver o local onde ela fica e com quem; não custa nada.
Lá fui decidida a pedir desculpa por ter prometido entregar a cadela e agora não ser capaz de o fazer.
Para espanto meu a Jasmim reagiu à sua nova dona como não tinha reagido comigo: cheirou-a e levantou a cabeça.
Naquele momento só conseguia chorar. O que fazer? estaria a ser egoísta entregando a Jasmim? seria egoísta por ficar com ela?
A entrega de jasmim
Acabei por entregá-la por que percebi que ali seria mais feliz. Só pensava que tenho por vezes Amar também é abdicar.
O meu coração continua  apertado e choro ao ver as suas fotos. Confesso que me pesa a consciência porque uma parte de mim sente que a abandonou, mas ao vê-la assim, serena aquieto-me um pouco.
Está feliz a jasmim, os seus olhos já brilham: e isso é o mais importante.
Foi uma desafio e uma aprendizagem...

A jasmim na nova casa...
Sê feliz minha doce jasmim!