18/08/2011

A Voz que Nos Rasgou por Dentro



A Voz que Nos Rasgou por Dentro
De onde vem - a voz que 
nos rasgou por dentro, que
trouxe consigo a chuva negra
do outono, que fugiu por
entre névoas e campos
devorados pela erva?

Esteve aqui — aqui dentro
de nós, como se sempre aqui
tivesse estado; e não a
ouvimos, como se não nos
falasse desde sempre,
aqui, dentro de nós.

E agora que a queremos ouvir,
como se a tivéssemos re-
conhecido outrora, onde está? A voz
que dança de noite, no inverno,
sem luz nem eco, enquanto
segura pela mão o fio
obscuro do horizonte.

Diz: "Não chores o que te espera,
nem desças já pela margem
do rio derradeiro. Respira,
numa breve inspiração, o cheiro
da resina, nos bosques, e
o sopro húmido dos versos."

Como se a ouvíssemos.

Nuno Júdice, in "Meditação sobre Ruínas"

5 comentários:

  1. A voz nos rasgou por dentro depois saiu e se calou no vento... silenciou-se esperando de nós a resposta.
    Um belo e reflexivo jogo de palavras.
    Abraços

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  2. Lindo!como tudo o que escreve Nuno Júdice.
    Bom fim de semana
    Bjs

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  3. Gostei muito deste filme.
    Não deixei de me afligir com a violência do marído quando teve a certeza do adultério: Não atacou o amante, não desfez o piano. Pura e simplesmente, desfez a possibilidade de ela tocar nos dois: amante e piano.

    Bjs

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  4. Por aqui tudo na mesma...mas eu tenho novidades...
    BJs

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  5. Querida amiga

    Penso que esta voz
    que queremos saber
    de onde vem,
    para onde foi,
    tem dentro de nós,
    a resposta
    para todas as perguntas
    que fizemos.


    Viver é sentir os sonhos
    com o coração.

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