Não conhecia a autora mas está muito, muito bem escrito. A história é a do povo do Biafra.
Vale a pena ler, porque mesmo que não seja divulgado existem muitos "Hitler's" por aí e muitos seres a sofrer, enquanto o mundo - que somos nós também - fecha os olhos.
“Meio Sol Amarelo”,
romance editado pela ASA que venceu o Orange Prize em 2007, pode parecer, à
partida, uma obra sem grandes argumentos para conquistar os leitores
portugueses. A autora, nigeriana, não só é desconhecida do público português
como tem um nome estranho: Chimamanda Ngozi Adichie. E depois, a história
decorre no Biafra, nação africana que já não existe e que surge inevitavelmente
associada à fome e à guerra – entre 1967 e 1970 tentou sem sucesso separar-se
da Nigéria. Só conquistou guerra, morte, fome e desilusão.
Então, porquê ler este romance? Antes de mais,
porque é bom, muito bom, escrito com paixão, sentimento que é transmitido na
perfeição ao leitor. Independentemente do tema, o que aqui temos é uma
excelente história (ou histórias), e bem contada, com paixão mas sem
dramatismos exagerados, mesmo que a envolvência pudesse levar a que fosse
percorrido esse caminho.
“Meio Sol Amarelo” é, assim, uma mistura de drama familiar com retrato
de um período da história, mas feito de uma forma em que não se distinguem os
limites de cada um dos géneros. O romance tem uma estrutura original que fez um
vaivém no tempo. Começa no ponto “A” e vai para “B” e regressa a “A” para de
novo voltar a “B”, permitindo estas deslocações temporais uma melhor
compreensão da complexidade da trama e da própria personalidade das
personagens. E está escrito de forma simples e crua, sem floreados, como o tema
impõe.
Cinco personagens notáveis construídas por
Chimamanda levam-nos a “reviver”, através do entrecruzar das linhas das suas
vidas, este drama biafrense que na altura indignou a opinião pública mundial.
Ugwu é um criado de treze anos de quem acompanhámos o crescimento, acelerado devido às vicissitudes da guerra. Ugwu trabalha para Odenigbo, professor universitário que mantém uma intensa relação com Olanna, que, por sua vez, tem uma irmã gémea de quem não podia ser mais diferente. Chama-se ela Kainene, uma mulher que se apaixona por Richard, um inglês atípico, já que se enamora verdadeiramente pelo Biafra, mas sem ser na perspectiva do colonizador.
Odenigbo é um dos intelectuais impulsionadores da revolta contra a Nigéria e assiste com grande desgosto e sofrimento à degradação das condições de vida do seu povo e, principalmente, da sua família. Não pretendendo, tal como Olanna, beneficiar de privilégios só por pertencer à elite intelectual, sofre na pele a cada vez maior escassez de bens e de moralidade que grassa no Biafra. Tanto ele como a mulher são dois retratos de como o povo sofreu com este conflito, desde a esperança ao desespero, uns descontrolando-se (Odenigbo), outros (Olanna) adaptando-se às circunstâncias para tentar levar uma vida o mais normal possível.
Ugwu é um criado de treze anos de quem acompanhámos o crescimento, acelerado devido às vicissitudes da guerra. Ugwu trabalha para Odenigbo, professor universitário que mantém uma intensa relação com Olanna, que, por sua vez, tem uma irmã gémea de quem não podia ser mais diferente. Chama-se ela Kainene, uma mulher que se apaixona por Richard, um inglês atípico, já que se enamora verdadeiramente pelo Biafra, mas sem ser na perspectiva do colonizador.
Odenigbo é um dos intelectuais impulsionadores da revolta contra a Nigéria e assiste com grande desgosto e sofrimento à degradação das condições de vida do seu povo e, principalmente, da sua família. Não pretendendo, tal como Olanna, beneficiar de privilégios só por pertencer à elite intelectual, sofre na pele a cada vez maior escassez de bens e de moralidade que grassa no Biafra. Tanto ele como a mulher são dois retratos de como o povo sofreu com este conflito, desde a esperança ao desespero, uns descontrolando-se (Odenigbo), outros (Olanna) adaptando-se às circunstâncias para tentar levar uma vida o mais normal possível.
“Meio Sol Amarelo”,
apesar de ser um retrato de uma guerra, é também (ou principalmente) um
excelente retrato de pessoas. Estas não deixaram de viver sua vida por causa da
guerra, mantiveram, nomeadamente, os seus problemas sentimentais. É uma faceta
em que poucas vezes se pensa quando se observa um cenário de guerra, mas à qual
Chimamanda Ngozi Adichie conseguiu dar uma textura impressionante. Afinal há
vida para além da fome, dos bombardeamentos, das violações, dos raptos, das
mutilações, etc. O modo como muitos tentam ter um quotidiano ao qual se agarrar
para conseguirem manter a estabilidade mental é retratado na perfeição neste
romance.
Lentamente, mesmo não dando por isso, o leitor
acompanha a decadência das condições de vida das personagens, o modo como se
tentam adaptar às novas condições.
Acompanha a desilusão que marcou este povo, que,
partir de uma certa altura, se sentiu desamparado, esquecido por aqueles que,
aparentemente, seriam os seus grandes apoiantes.
Chimamanda conseguiu o seu objectivo: transformou as
estatísticas da morte no Biafra em histórias de vida, e com isso, já a uma
distância considerável (houve tantas guerras mediáticas entretanto), recuperou
do esquecimento uma tragédia que marcou uma época.
4 comentários:
Egoismo, ganância, olhar para o próprio umbigo e, muita, muita,... sede de Poder (porque até um reles funcionário que ocupe um lugar onde pode infernizar ou complicar a vida do seu semelhante, gosta desse mísero poder)e isto, será um caminho que neste mundo, não vai dar a lado nenhum, senão ao sofrimento de Todos.
Bjos
quantas v idas em sofrimento, quantas mortes, crianças sem pais sem tectos, e como dizes não passam de simples estatísticas, quando esses casos se passa no ceio da nossa família para nós é inaceitável ser visto como estatísticas pois a dor do sofrimento e da morte fica em nosso coração e fazemos tão pouco para alterar as circunstancias
Bj
Fiquei interessada, porque é uma denúncia, um testemunho, uma chamada de ateñção. E se ainda por cima está bem escrito...
Obrigada pela referência, não conhecia o livro!
Enquanto houver senhores da guerra,e paises,cujas fortunas continuam a ser contadas em milhões de dólares quando deviam ser contadas em milhões de mortes,nada muda.
A denúncia já é algo.
Um abraço,
mário
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