25/11/2010
Príncipe (Ana Hatherly)
Príncipe (Ana Hatherly)
Era de noite quando eu bati à tua porta
e na escuridão da tua casa tu vieste abrir
e não me conheceste.
Era de noite
são mil e umas
as noites em que bato à tua porta
e tu vens abrir
e não me reconheces
porque eu jamais bato à tua porta.
Contudo
quando eu batia à tua porta
e tu vieste abrir
os teus olhos de repente
viram-me
pela primeira vez
como sempre de cada vez é a primeira
a derradeira
instância do momento de eu surgir
e tu veres-me.
Era de noite quando eu bati à tua porta
e tu vieste abrir
e viste-me
como um náufrago sussurrando qualquer coisa
que ninguém compreendeu.
Mas era de noite
e por isso
tu soubeste que era eu
e vieste abrir-te
na escuridão da tua casa.
Ah era de noite
e de súbito tudo era apenas
lábios pálpebras intumescências
cobrindo o corpo de flutuantes volteios
de palpitações trémulas adejando pelo rosto.
Beijava os teus olhos por dentro
beijava os teus olhos pensados
beijava-te pensando
e estendia a mão sobre o meu pensamento
corria para ti
minha praia jamais alcançada
impossibilidade desejada
de apenas poder pensar-te.
São mil e umas
as noites em que não bato à tua porta
e vens abrir-me
Ana Hatherly
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7 comentários:
Muitíssimo belo! Apetece ler e reler e ler de novo, até saber de cor!
A música ajuda muito a criar o "ambiente"...
Gosto da música... só é pena que os "príncipes"... andem esgotados ou foram sempre ficção? ;))
Bjos
Que maravilha! fiquei por aqui deliciando-me...bela música.
Bjs
mágica esta leitura
beijo
Sou incondicional dos Pink Floyd.
O concerto memorável de Veneza foi um must.
Há poucos conjuntos que tenham conseguido o êxito que eles obtiveram com o «Dark Side Of The Moon» e 20 anos mais tarde, «The Wall»
Belíssima escolha.
Bjs
Tenho de acrescentar que, apesar de conhecer mal a poesia de Ana H, gostei muito deste poema.
Bjs
Há poemas e músicas assim! :-))
Abraço
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