28/07/2011

Voluntariado: o que nos faz mover


Imagino que estejam cansados de ver pedidos de ajuda para animais. Cada história que trago aqui, é sempre mais uma de entre muitas.
Algumas pessoas acusam-me de pensar em demasia nos animais e esquecer os humanos. Não é verdade, se quisesse dava para fazer uma singela lista de outras insignificantes coisas que faço em prol dos humanos, nomeadamente idosos - muito pouco, eu sei, mas é  a minha parte - Mesmo para os que duvidam que o faço com esforço, a verdade é que muitas dessas ajudas são à custa de algumas renuncias e abdicações.
Lembro-me de em criança ver a minha mão, que tinha muitas dificuldades, ajudar os outros: um ovo para uma vizinha, um pouco de farinha de galinhas para as galinhas de outra; uma melancia para a Tia M. que nem reforma tinha...
Acho que nunca soube apreciar a minha verdadeiramente em vida, mas hoje, especialmente hoje que me apetecia muito deitar a cabeça no seu colo, penso como foi uma mulher boa. Vi-a fazer coisas que mais ninguém era capaz de fazer, sobretudo num meio pequeno. Um dia, já ela estava doente, descobri que lavava  a roupa de um senhor que tinha ficado viúvo. O homem não tinha falta de dinheiro, tinha era falta de família (sem mulher, filhos ou outros familiares que cuidassem dele, definhou na solidão). Num tom acusador disse-lhe:
- mãe, mas  a mãe agora lava  a roupa das pessoas, precisa disso?quanto é que ele lhe paga, já  agora?
 respondeu-me  a minha mãe:
- e eu quero lá dinheiro, coitado do homem, só basta a tristeza em que vive. E depois não te lembras da mulher dele que era tão boa para os animais e que te fazia saias com os restos dos tecidos...
Sim lembrei-me da inaicinha. Tinha mais de 30 gatos no quintal. A vida roubou-lhe a hipótese de ter filhos, dedicou o seu intenso amor aos animais.
Na verdade o que importa é que cada um aplique o ditado da minha avó "faz o bem e não olhes a quem"...
Mas voltando aos animais e ao voluntariado. As causas que movem cada um de nós para o voluntariado não são comparáveis, apenas o afecto que cada um deposita na sua causa pode ser comum.
Para vós que me leem, podem pensar "mais uma desgraça...", para mim que escrevo "quem sabe se alguém não consegue ajudar um animal...".
Para um voluntário que recebe em cada dia um vasto número de animais, todos eles vítimas de tudo e mais alguma coisa:  maus tratos, abandono, doença, fome, etc. etc., fica-se devastado por não pudermos ajudar mais.
Falta comida dinheiro, afecto, condições, e por vezes um lar é a solução para aqueles seres tristes e amedrontados.
Podemos sempre enterrar a cabeça na areia, mas acreditem que olhar para aqueles pedidos de socorro e não puder fazer nada, dói. A mim dói-me muito!
É uma incapacidade minha, esta dificuldade em desligar-me do sofrimento; por vezes corrói-me e interfere na minha vida pessoal.
Mas tenho muitos bónus, muitos mesmo. Este ano fiquei sem dinheiro para ir de férias, já tinha  abusado nas ajudas para além das despesas extras... Ontem, sem que tivesse falado no assunto, uma amiga ofereceu-me a sua casa na praia.
No outro dia, era preciso comprar comida para os animais, antes do fim do mês o dinheiro já não dava; sentia-me  impotente, revoltada com o dinheiro que se desperdiça,  desesperada com vontade de fugir. 
Olhando para o chão encontrei um porta-moedas com 40 euros. Tenho muita pena da pessoa que a perdeu, espero que não lhe fizessem falta para comer, mas foi directamente para ajudar animais. Sim, eu sei, sou uma pessoa de sorte.
Fiz mal, fiz bem? não sei, faço o que o coração me manda.
Se cada um dos vizinhos da blogoesfera desse um euro a uma associação, salvavam-se muitos animais. Mesmo que não concordemos, a esterilização dos animais é essencial.Por cada um animal que ajudamos aparecem 10 a precisar de mais ajuda. Não há donos responsáveis que cheguem.
Se hoje puder, doe um euro a uma qualquer associação, alimente ou adopte um animal...
já agora desculpem-me se abuso dos post sobre animais e com pedidos de ajuda.
Seja voluntário, faça a diferença!

Iniciei a minha tese com este texto porque acho que ele diz tudo:
"Um colibri voava ligeiro até o rio, colhia uma gotinha de água em seu biquinho, e ia pingá-la sobre aquele imenso fogaréu. Uma após outra, sem parar…
Até que, incontido, um dos bichos bradou:
”Seu pequeno pássaro estúpido! Você acha que essa gotinha vai apagar o fogo? Será que é tão imbecil? Voa embora, com essas asas que você tem! Salve-se! É o fim!!!”
Suavemente, o humilde pássaro respondeu:
”Eu estou fazendo a minha parte!"

 Sabia que a F.A.D.A. é um Fundo Alimentar Para Defesa Animal.
 Apenas se tem que comprometer a dar 2kg de ração por mês, ou desparasitantes, ou outra ajuda qualquer. Se se tornar" amiga", mensalmente uma voluntária marca um encontro e só tem que ir entregar os 2kg de comida. Acha muito? 
Esses alimentos serão depois distribuídos por canis e associações que estão a abarrotar .

16 comentários:

Cristina Torrão disse...

Nunca se censure por ajudar tanto os animais. O facto de haver pessoas a sofrer e a passar fome não é razão para que não se ajudem outras criaturas que precisem. Isso é um absurdo!

Imagine o seguinte cenário: vai alguém pela rua a saborear um bom gelado, quando um cão doente e abandonado se cruza no seu caminho. Essa pessoa olha para o lado, a pensar: "era o que mais me faltava, preocupar-me com o animal pulguento, quando há tanta criança com fome no mundo." E avança, toda satisfeita, a dar lambidelas no seu geladinho!

Quem a acusa de se preocupar demasiado com os animais, já fez alguma coisa pelas crianças da Somália? Pergunte, da próxima vez que isso acontecer.

Cada um faz o que pode. Ninguém muda o mundo ao protestar contra a ajuda a animais, por haver pessoas a sofrer. Mas se cada um de nós se empenhasse em ajudar quem está a seu lado (pessoa ou animal) aí, sim, seria possível mudar o mundo.

Bem haja!

Há.dias.assim disse...

Obrigada Cristina pelas suas palavras.
Souberam bem!

lis disse...

Oi kirida
Admirável texto e pensamento sobre como é possível se doar , ajudar voluntariamente com alimento ou financeiramente os animais, uma vez que é bem mais comum as pessoas priorizarem ajuda aos humanos e achar que os animais tem mais meios de sobrevivência quando nao é bem assim,principalmente se estiverem doentes ou viverem em locais de poucos recursos e baixa colaboração.
Aqui no Brasil no meu bairro são muito queridos e bem tratados , temos também no centro do Rio um local onde os gatos vivem livremente e são monitoriados por veterinários e aceita-se doação (quem quer doar ou fazer a adoção) , é muito simpática a ideia eles vivem por ali, pelos arredores e todos os tratam bem , ou seja pode haver um ou outro caso de maus tratos mas nada muito relevante .
Nos bares há sempre um gato no balcão, muito inspirador rsrs
Parabéns e que nao seja em vao sua preocupação e carinho , que seja lida por amantes dos animais que irão se voluntariar a esssa sua causa tao nobre.
um grande abraço

Isa GT disse...

Vamos entrar numa época muito difícil, o importante será cada um poder ajudar com o que tiver ou puder... mal do mundo se não houvesse ninguém a pensar nos animais.

Bjos

Rafeiro Perfumado disse...

Quem te acusa do que quer que seja, garantidamente não faz uma ínfima parte do que fazes. E dizer que investir tempo e dinheiro em animais é desperdício só demonstra quem é o verdadeiro animal nesta história.

Beijoca e a minha vénia.

trepadeira disse...

É assim que as pessoas se dão a conhecer.

Envergonho-me de não conseguir fazer sequer uma pequena parte do que faz a minha amiga.

Um abraço,
mário

Justine disse...

Apoio totalmente o voluntariado que ajuda os animais maltratados, e faço-o numa instituição de Lisboa.
Se todos nós, como o colibri, fizéssemos a nossa parte, o mundo seria diferente!

Anónimo disse...

Nunca é demais pedir ajuda para os animais. Principalmente numa altura em que há cada vez mais gente a abandoná-los, perante a passividade da maioria.

Rosa dos Ventos disse...

Os animais de estimação são os primeiros a sofrer as consequências da crise, infelizmente são abandonados, deitados fora como se fossem "coisas"!
Contribuo com uma quota para um canil/gatil, sei que é pouco mas é o que posso.
Também não suporto vê-los, sobretudo, cães desesperados, com o olhar de quem procura desesperadamente um dono!

Abraço

Há.dias.assim disse...

Lis,
São tantos os que necessitam...

Há.dias.assim disse...

Isa,
muita embora o número dos que abandonam e maltratam seja grande, há muita gente a fazer o bem.
O que importa é que cada um de nós faça o que está ao nosso alcance, mesmo que pareça pouco.

Há.dias.assim disse...

Rafeiro,
Sou uma pessoa comum, faço o que está ao meu alcance, e não fecho os olhos a estes seres que se cruzam comigo. certamente que fecharei a outras coisas...
Obrigada!

Há.dias.assim disse...

Mário, faz o que pode.
A vida roubou-me muito, talvez por isso tenha esta necessidade de cuidar dos animais.

Há.dias.assim disse...

Justine,
o que importa é que cada um de nós faça o que pode.

Há.dias.assim disse...

Carlos,
são tantos os abandonados...

Há.dias.assim disse...

Rosa dos ventos,
não é pouco, fazes o que podes e isso é muito.