30/01/2011

A mulher, essa desconhecida...

Enquanto a gripe não se vai...
Clique para ampliar.

27/01/2011

Procuro programa informático...

E
No fim de semana passo pelas vossas tascas. Até lá deixo-vos com este anúncio. Se encontrarem, pago bem com o dinheiro da reforma do dito senhor...

24/01/2011

O catador



Um homem catava pregos no chão.
Sempre os encontrava deitados de comprido,
ou de lado,
ou de joelhos no chão.
Nunca de ponta.
Assim eles não furam mais - o homem pensava.
Eles não exercem mais a função de pregar.
São patrimônios inúteis da humanidade.
Ganharam o privilégio do abandono.
O homem passava o dia inteiro nessa função de catar
pregos enferrujados.
Acho que essa tarefa lhe dava algum estado.
Estado de pessoas que se enfeitam a trapos.
Catar coisas inúteis garante a soberania do Ser.
Garante a soberania de Ser mais do que Ter

Tratado geral das grandezas do ínfimo, Editora Record - 2001, pág. 43

23/01/2011

Salvador



 Pensa que já viu tudo sobre a malvadez humana?
Todos os dias nos cruzamos com animais vítimas de abandono, de negligência e de maus tratos, mas o Salvador foi vítima da mais grave crueldade deliberada que já nos passou pelas mãos.
Recebemos um apelo desesperado da cuidadora de uma pequena colónia em Leça da Palmeira (concelho de Matosinhos), dizendo que tinha lá sido abandonado um gato gravemente ferido. Uma voluntária dirigiu-se de imediato ao local e encontrou o Salvador com um ferro espetado e torcido à volta do dorso, esmagando-lhe os orgãos internos.
O Salvador tinha tentado desesperadamente tirar o ferro, ferindo-se com gravidade numa das patas. Já se encontrava no local há alguns dias e a cuidadora já se tinha dirigido a várias pessoas e instituições, nomeadamente uma clínica veterinária localizada perto da colónia, mas tinha-lhe sido recusada qualquer ajuda.
O Salvador estava tão apavorado que não se deixava tocar, mas felizmente entrou na armadilha de CED que a voluntária trazia consigo. Foi de imediato levado a uma das clínicas veterinárias que tem protocolo com a Animais de Rua e, depois de estabilizado, será operado e esterilizado.
Precisamos de padrinhos de tratamento para o Salvador, uma vez que as despesas veterinárias ascenderão a, pelo menos, 250€.
O caso do Salvador consternou toda a equipa da Animais de Rua. Todos os dias assistimos a gestos de generosidade das pessoas que nos enchem o coração, mas este caso não pode deixar de nos fazer perder um pouco a fé no ser humano. 
Actualização: A 13.01.2011, o Salvador foi submetido a uma cirurgia para remoção do ferro e da pele necrótica e amputação de dois dedos da pata com que tentou retirar o ferro e que se encontravam completamente desfeitos. Foi-lhe também detectado um chumbo numa das patas. Aproveitou-se a anestesia para o esterilizar. O Salvador encontra-se agora internado na clínica, onde o espera um pós-operatório longo e difícil. Se tudo correr bem, poderá um dia ser adoptado e levar uma vida normal, mas para já o seu prognóstico é reservado.


Qualquer ajuda que dê será bem vinda 
Banco: Banco Best - Porto
N.º Conta: 9212 0124 0009
NIB: 0065 0921 00201240009 31
IBAN: PT50 0065 0921 0020 1240 0093 1
SWIFT/BIC: BESZPTPL 

22/01/2011

Sem assunto

Sempre detestei  ter que "fazer conversa" ou "deitar conversa fora" como dizem os brasileiros...
Passa-se o mesmo com a escrita. Não ando inspirada. Faltam-me as palavras. Não consigo falar mais de política, nem da crise, nem de histórias cheias de nem sei o quê, como o caso do cronista e do rapaz que achava que ia para o EUA, ficava hospedado num hotel de luxo, com tudo pago e que isso era tudo gratuito... Nunca ouviu a frase "não há almoços grátis!". 
A história do nome da filha de Luciana Abreu e do futebolista também já me cansou por ser cheia, ou vazia de qualquer coisa.
Certamente que o erro está em mim. Os adolescentes têm por hábito acharem cromos todos os que os rodeiam, esquecendo-se que os cromos são eles próprios. Talvez seja o meu caso...
Gostava de escrever algo sobre dignidade, de uma forma simples, mas que as palavras chegassem ao até todos.
Só queria que o meu país tivesse dignidade. Os políticos eleitos defendessem realmente o seu povo; os empregados e gestores dessem o seu melhor para que a produção aumentasse, que as pessoas parassem de se fazer de vítimas e de choradinhos e começassem realmente a trabalhar e não a pedir subsídios. Que os velhos não precisassem de contar moedas para comprar o pão... Enfim, que cada um de nós fosse mais digno.
(No outro dia falava com uma  amiga que é médica num populoso centro de saúde. Falávamos sobre dignidade - de como a sociedade, leia-se políticos,  roubou a possibilidade dos idosos poderem viver com dignidade - e ela disse-me: sabes como vejo a dignidade? - quando peço aos meus doentes para levantarem a camisola para os auscultar, vejo velhinhas com combinações de seda tão passajadas, tão cozidas, mas ainda assim tão arranjadinhas. Levantam a camisola e baixam os olhos, para que não possa ver nos olhos o que o auscultador não deixa transparecer. Depois chegam outras, arrogantes, a gritar, a exigir, sem o mínimo de educação e respeito...).
Também a propósito de dignidade, ou falta dela,  falava com uma tia sobre como se vive agora lá na aldeia.
Dizia-me- sabes filha, agora já há um Centro de Dia e há a Associação (e eu tentava perceber o que era a associação...). A associação faz comida barata para os pobres e os velhos. por 2,5€ podes levar uma boa dose para casa. 
-E a comida é boa tia?
- eu não vou lá. o tio não quer. Ainda podemos pagar, mal mas cá nos arranjamos. E depois lá ir é triste. Os ricos cá da aldeia enchem a boca que vão lá buscar comida, com  cinco euros têm almoço para a família. Como eles são a Menina F; a Senhora M. e etc.. o melhor bocado é para eles, e os velhos ficam com os restos. Ah! a dignidade, pensei.
-Tia, mas a junta de freguesia não faz nada? não deveriam pagar mais pela comida, essas que podem?
- A junta também de lá come!
- tia mas  agora que o F. está desempregado porque não vai lá de vez em quando? ah! não, ainda a minha mãe dava voltas na campa se soubesse que a filha andava de mão estendida!
Como percebem, não consigo escrever nada de jeito ou coerente. 
Dizem os sábios "quando as palavras que vais dizer não são mais bonitas que o silêncio, cala-te!"

12/01/2011

Ser ou não ser Presidenta...

Recebido por e-mail: 
O novo acordo não o previa..... mas com a língua de Camões, não se brinca. Com a palavra os professores de língua portuguesa: Antonio Oirmes Ferrari, Maria Helena e Rita Pascale 
Queridos Amigos, 
Tenho notado, assim como aqueles mais atentos também devem tê-lo feito, que a candidata Dilma Roussef e seus sequazes, pretendem que ela venha a ser a primeira presidenta do Brasil, tal como atesta toda a propaganda política veiculada pelo PT na mídia. 
Presidenta??? Mas, afinal, que palavra é essa totalmente inexistente em nossa língua? Bem, vejamos: No português existem os particípios ativos como derivativos verbais. Por exemplo: o particípio ativo do verbo atacar é atacante, de pedir é pedinte, o de cantar é cantante, o de existir é existente, o de mendicar é mendicante... 
Qual é o particípio ativo do verbo ser? O particípio ativo do verbo ser é ente. Aquele que é: o ente. Aquele que tem entidade. Assim, quando queremos designar alguém com capacidade para exercer a ação que expressa um verbo, há que se adicionar à raiz verbal os sufixos ante, ente ou inte. Portanto, à pessoa que preside é PRESIDENTE, e não "presidenta", independentemente do sexo que tenha. 
Se diz capela ardente, e não capela "ardenta"; se diz estudante, e não "estudanta"; se diz adolescente, e não "adolescenta"; se diz paciente, e não "pacienta". 
Um bom exemplo seria: "A candidata a presidenta se comporta como uma adolescenta pouco pacienta que imagina ter virado eleganta para tentar ser nomeada representanta. Esperamos vê-la algum dia sorridenta numa capela ardenta, pois esta dirigenta política, dentre tantas outras suas atitudes barbarizentas, não tem o direito de violentar o pobre português, só para ficar contenta."

08/01/2011

O fato usado do presidente ou os Et's do meu país...

Não falta de tempo para escrever textos meus deixo aqui um da Zita Seabra, não que seja fã, mas o texto está bom.
Entretanto relembro que estamos no Ano Internacional das Florestas (http://www.un.org/en/events/iyof2011/) no Ano Europeu do Voluntariado (http://europa.eu/volunteering/ e www.voluntariado.pt/ e no Ano do Morcego (http://naturlink.sapo.pt/article.aspx?menuid=20&cid=28770&bl=1).
Para ser voluntário basta inscrever-se em www.bolsadovoluntariado.pt
 O fato usado do presidente
Opinião, por ZITA SEABRA in Jornal de Notícias, 26.12.2010
Três dias antes do Natal, assistia calmamente ao Telejornal da RTP1 quando vi a grande notícia da noite. Entre os atentados em Bagdade e as agências de rating, uma voz off anuncia o que as câmaras filmam: o presidente da maior empresa pública portuguesa a levar dois saquinhos de papel com roupa usada e um brinquedinho (usado) para uns caixotes de cartão, cheios de coisas usadas para oferecer no Natal. Fiquei comovida. Que imagem de boa pessoa, que gesto bonito: pegar num fatinho usado do seu guarda-vestidos que deve ter uns 200 e num pequeno brinquedo de peluche, e depositar tudo no caixote de cartão para posteriormente ser redistribuído? À administração da empresa?
Não, a notícia explica que é para oferecer aos pobrezinhos, que estão a aumentar com a crise. A RTP, Telejornal à hora nobre, filma o comovente gesto. Em off, o locutor explica o sentido dizendo que alguém vai ter no sapatinho um fato de marca. Olhando para os sacos de papel, percebe-se que esse alguém também receberá umas meias usadas e talvez mesmo uma camisa de marca usada.
Primeiro, pensei que estava a dormir e um pesadelo me fizera voltar ao tempo de Salazar, à RTP a preto e branco ou à série da Rita Blanco «Conta-me como foi».
Mas não, eu estava acordada e a ver o presidente da EDP no Telejornal da RTP 1 (podem ver o filme na net) posar sorridente para as câmaras, a levar um saquinho a um caixote, que não era de lixo, mas de oferta.
Por acaso, estava à porta da EDP a RTP a filmar o gesto. Iam a passar e filmaram, certamente, porque para os pobres os fatos em segunda mão de marca assentam como uma luva. Um velhinho num lar de Vila Real
vestido Rosa & Teixeira sempre é outra coisa. Ou o homeless na sopa dos pobres com Boss faz outra figura, ou o desempregado com Armani numa entrevista do fundo de desemprego... Mentalidade herdada do Estado Novo, foi a minha primeira análise, teorizando imediatamente que os ricos em Portugal, os que recebem prémios de milhões em empresas públicas e ordenados escandalosos e que puseram o mundo e o país como se vê, são os mesmos com a mesma mentalidade salazarenta. 
Mas nem é verdade, pois, mesmo nesse tempo, as senhoras do regime organizavam enxovais novos nas aulas de lavores do meu liceu para dar no Natal aos pobres que iam nascer.
Tantos assessores de imprensa na EDP, tantos assessores na Fundação EDP, milhões de euros gastos em geniais campanhas de marketing, tantas cabeças inteligentes diariamente pagas para vender a imagem do presidente da EDP, tudo pago a preço de ouro, e não concebem nada melhor do que mandar (!?) filmar, no espaço do Telejornal mais importante do país, um gesto indigno, triste, lamentável, que envergonha quem vê. Não têm vergonha? Não coraram? E a RTP que critérios usa no Telejornal para incluir uma notícia?
Há uns meses escrevi ao presidente da EDP e telefonei-lhe mesmo, a pedir ajuda da empresa para reparar a velha instalação eléctrica, gasta pelo uso e pelo tempo, de uma instituição, onde vivem 40 adultas cegas e com deficiências e que têm um dos mais ricos patrimónios culturais do país. A instituição recebeu meses depois a resposta: a Fundação EDP esclarecia que esse pedido não se enquadrava nas suas atribuições. Agora percebi. Pedia-se fios eléctricos, quadros eléctricos novos e lâmpadas novas. Devia-se ter escrito ao senhor presidente da maior empresa (pública) portuguesa, com os maiores prémios de desempenho, cujo vencimento é superior ao do presidente dos Estados Unidos, para que oferecesse uma lâmpada em segunda mão, que ainda acendesse e desse alguma luz. 
Talvez assim mandasse um dos seus motoristas, com um dos geniais assessores de imprensa e um dos fantásticos directores de marketing, avisar a RTP (a quem pagamos uma taxa na factura da luz) para virem filmar a entrega da lâmpada num saquinho de papel.
2011 anuncia-se um ano duro para os portugueses e sê-lo-á tanto mais quanto os responsáveis pelo estado a que se chegou não saírem da nossa frente.
Zita Seabra

06/01/2011

"Devem-me dinheiro"


Domingo, 5 de Dezembro de 2010 
Mário Crespo: "Devem-me dinheiro"
José Sócrates em 2001 prometeu que não ia aumentar os impostos. E aumentou. Deve-me dinheiro. 
António Mexia da EDP comprou uma sinecura para Manuel Pinho em Nova Iorque. Deve-me o dinheiro da sinecura de Pinho. E dos três milhões de bónus que recebeu. E da taxa da RTP na conta da luz. Deve-me a mim e a Francisco C. que perdeu este mês um dos quatro empregos de uma loja de ferragens na Ajuda onde eu ia e que fechou. E perderam-se quatro empregos. Por causa dos bónus de Mexia. E da sinecura de Pinho. E das taxas da RTP. 
Aníbal Cavaco Silva e a família devem-me dinheiro. Pelas acções da SLN que tiveram um lucro pago pelo BPN de 147,5 %. Num ano.  
Manuel Dias Loureiro deve-me dinheiro. Porque comprou por milhões coisas que desapareceram na SLN e o BPN pagou depois. E eu pago pelo BPN agora. Logo, eu pago as compras de Dias Loureiro. E pago pelos 147,5 das acções dos Silva. Cavaco Silva deve-me muito dinheiro. Por ter acabado com a minha frota pesqueira em Peniche e Sesimbra e Lagos e Tavira e Viana do Castelo. Antes, à noite, viam-se milhares de luzes de traineiras. Agora, no escuro, eu como a Pescanova que chega de Vigo. Por isso Cavaco deve-me mais robalos do que Godinho alguma vez deu a Vara. Deve-me por ter vendido a ponte que Salazar me deixou e que eu agora pago à Mota Engil. 
António Guterres deve-me dinheiro porque vendeu a EDP. E agora a EDP compra cursos em Nova Iorque para Manuel Pinho. E cobra a electricidade mais cara da Europa. Porque inclui a taxa da RTP para os ordenados e bónus da RTP. E para o bónus de Mexia. 
A PT deve-me dinheiro. Porque não paga impostos sobre tudo o que ganha. E eu pago. Eu e a D. Isabel que vive na Cova da Moura e limpa três escritórios pelo mínimo dos ordenados. E paga Impostos sobre tudo o que ganha. E ficou sem abonos de família. E a PT não paga os impostos que deve e tenta comprar a estação de TV que diz mal do Primeiro-ministro. 
Rui Pedro Soares da PT deve-me o dinheiro que usou para pagar a Figo o ménage com Sócrates nas eleições. E o que gastou a comprar a TVI. 
Mário Lino deve-me pelos lixos e robalos de Godinho. E pelo que pagou pelos estudos de aeroportos onde não se vai voar. E de comboios em que não se vai andar. E pelas pontes que projectou e que nunca ligarão nada. 
Teixeira dos Santos deve-me dinheiro porque em 2008 me disse que as contas do Estado estavam sãs. E estavam doentes. Muito. E não há cura para as contas deste Estado. 
Os jornalistas que têm casas da Câmara devem-me o dinheiro das rendas. E os arquitectos também. E os médicos e todos aqueles que deviam pagar rendas e prestações e vivem em casas da Câmara, devem-me dinheiro. 
Os que construíram dez estádios de futebol devem-me o custo de dez estádios de futebol. 
Os que não trabalham porque não querem e recebem subsídios porque querem, devem-me dinheiro. Devem-me tanto como os que não pagam renda de casa e deviam pagar. Jornalistas, médicos, economistas, advogados e arquitectos deviam ter vergonha na cara e pagar rendas de casa. Porque o resto do país paga. E eles não pagam. E não têm vergonha de me dever dinheiro. Nem eles nem Pedro Silva Pereira que deve dinheiro à natureza pela alteração da Zona de Protecção Especial de Alcochete. Porque o Freeport foi feito à custa de robalos e matou flamingos. E agora para pagar o que devem aos flamingos e ao país vão vendendo Portugal aos chineses. Mas eles não nos dão robalos suficientes apesar de nos termos esquecido de Tien Amen e da Birmânia e do Prémio Nobel e do Google censurado. Apesar de censurarmos, também, a manifestação da Amnistia, não nos dão robalos. Ensinam-nos a pescar dando-nos dinheiro a conta gotas para ir a uma loja chinesa comprar canas de pesca e isco de plástico e tentar a sorte com tainhas. À borda do Tejo. Mas pesca-se pouca tainha porque o Tejo vem sujo. De Alcochete. Por isso devem-me dinheiro. A mim e aos 600 mil que ficaram desempregados e aos 600 mil que ainda vão ficar sem trabalho. E à D. Isabel que vai a esta hora da noite ou do dia na limpeza de mais um escritório. Normalmente limpa três. E duas vezes por semana vai ao Banco Alimentar. E se está perto vai a um refeitório das Misericórdias. À Sexta come muito. Porque Sábado e Domingo estão fechados. E quando está doente vai para o centro de saúde às 4 da manhã. E limpa menos um escritório. E nessa altura ganha menos que o ordenado mínimo. Por isso devem-nos muito dinheiro. E não adianta contratar o Cobrador do Fraque. Eles não têm vergonha nenhuma. Vai ser preciso mais para pagarem. Muito mais. Já.

02/01/2011

Ah! a poesia...

Manoel Wenceslau Leite de Barros nasceu em Cuiabá (MT) no Beco da Marinha, beira do Rio Cuiabá, em 19 de Dezembro de 1916, filho de João Venceslau Barros, capataz com influência naquela região. Mudou-se para Corumbá (MS), onde se fixou de tal forma que chegou a ser considerado corumbaense. Actualmente mora em Campo Grande (MS). É advogado, fazendeiro e poeta.
Tinha um ano de idade quando o pai decidiu fundar fazenda com a família no Pantanal: construir rancho, cercar terras, amansar gado selvagem. Nequinho, como era chamado carinhosamente pelos familiares,  cresceu brincando no terreiro em frente à casa, pé no chão, entre os currais e as coisas "desimportantes" que marcariam sua obra para sempre. "Ali o que eu tinha era ver os movimentos, a atrapalhação das formigas, caramujos, lagartixas. Era o apogeu do chão e do pequeno." Continua aqui

Aprendo com abelhas 

Aprendo mais com abelhas do que com aeroplanos.
É um olhar para baixo que eu nasci tendo.
É um olhar para o ser menor, para o
insignificante que eu me criei tendo.
O ser que na sociedade é chutado como uma
barata - cresce de importância para o meu
olho.
Ainda não entendi por que herdei esse olhar
para baixo.
Sempre imagino que venha de ancestralidades
machucadas.
Fui criado no mato e aprendi a gostar das
coisinhas do chão -
Antes que das coisas celestiais.
Pessoas pertencidas de abandono me comovem:
tanto quanto as soberbas coisas ínfimas.
_____________
Descobri aos 13 anos que o que me dava prazer nas
leituras não era a beleza das frases, mas a doença
delas.
Comuniquei ao Padre Ezequiel, um meu Preceptor,
esse gosto esquisito.
Eu pensava que fosse um sujeito escaleno.
-Gostar de fazer defeitos na frase e muito saudável,
o Padre me disse.
Ele fez um limpamento em meus receios.
O Padre falou ainda: Manoel, isso não é doença,
pode muito que você carregue para o resto da vida
um certo gosto por nadas. . .
E se riu.
Você não é de bugre? - ele continuou.
Que sim, eu respondi.
Veja que bugre só pega por desvios , não anda em
estradas -
Pois é nos desvios que encontra as melhores surpresas
e os ariticuns maduros.
Há que apenas saber errar bem o seu idioma.
Esse Padre Ezequiel foi o meu primeiro professor de
agramática.
  -----------------
Passarinho
Um passarinho pediu a meu irmão para ser sua árvore.
Meu irmão aceitou de ser a árvore daquele passarinho.
No estágio de ser essa árvore, meu irmão aprendeu de
sol, de céu e de lua mais do que na escola.
No estágio de ser árvore meu irmão aprendeu para santo
mais do que os padres lhes ensinavam no internato.
Aprendeu com a natureza o perfume de Deus
seu olho no estágio de ser árvore aprendeu melhor
o azul
E descobriu que uma casa vazia de cigarra esquecida
no tronco das árvores só serve pra poesia.
No estágio de ser árvore meu irmão descobriu que as árvores são vaidosas.
Que justamente aquela árvore na qual meu irmão se transformara,
envaidecia-se quando era nomeada para o entardecer dos pássaros
e tinha ciúmes da brancura que os lírios o deixavam nos brejos.
Meu irmão agradecia a Deus aquela permanência em árvore porque fez amizade com muitas borboletas.
Soberania
Naquele dia, no meio do jantar, eu contei que tentara pegar na bunda do vento
— mas o rabo do vento escorregava muito e eu não consegui pegar.
Eu teria sete anos. A mãe fez um sorriso carinhoso para mim e não disse nada.
Meus irmãos deram gaitadas me gozando.
O pai ficou preocupado e disse que eu tivera um vareio da imaginação.
Mas que esses vareios acabariam com os estudos.
E me mandou estudar em livros. Eu vim.
E logo li alguns tomos havidos na biblioteca do Colégio.
E dei de estudar pra frente.
Aprendi a teoria das idéias e da razão pura.
Especulei filósofos e até cheguei aos eruditos.
Aos homens de grande saber.
Achei que os eruditos nas suas altas abstracções se esqueciam das coisas simples da terra.
Foi aí que encontrei Einstein (ele mesmo — o Alberto Einstein).
Que me ensinou esta frase:
A imaginação é mais importante do que o saber.
Fiquei alcandorado! E fiz uma brincadeira.
Botei um pouco de inocência na erudição. Deu certo.
Meu olho começou a ver de novo as pobres coisas do chão mijadas de orvalho.
E vi as borboletas. E meditei sobre as borboletas.
Vi que elas dominam o mais leve sem precisar de ter motor nenhum no corpo.
(Essa engenharia de Deus!)
E vi que elas podem pousar nas flores e nas pedras sem magoar as próprias asas.
E vi que o homem não tem soberania nem pra ser um bentevi.

01/01/2011

O benefício da dúvida...

Existe uma certa tendência, na maior parte dos seres humanos, para as generalizações; para sermos juízes ouvindo apenas uma das partes; entre outras características que poderão conduzir a injustiças.
Nos últimos tempos assistiu-se em Portugal, generalizando, claro, a um agravamento do pessimismo em relação ao futuro. 
Acredito que muita gente está mal e que os tempos que se aproximam não serão fáceis. mas a verdade é que nem sempre tem sido fácil para muitos, quer as televisões o digam ou não.
A comunicação social em muito contribui para este estado geral de pessimismo que atingiu o país.
Atravessamos um percurso sinuoso, mas à beira dos caminhos também há flores.
Neste inicio de ano só desejo que a dignidade volte até nós. 
E porque há que dar o benefício da dúvida ao novo ano, deixo-vos com este texto que li no blogue "duas ou três coisas:  Uma carta recebida
Chegou-me esta carta, que aqui publico, sem comentários:  
Meu caro amigo
Escrevo-lhe um pouco em desespero, esperando me possa ajudar, através do seu blog. 
Desde há meses, mas com insistência nas últimas semanas, sou alvo de uma insuportável campanha de calúnias. Não passa um dia sem que, um pouco por todo o lado, falem muito mal de mim. 
Não entendo esta embirração: ainda não iniciei a minha actividade e não há jornal ou comentador que, ao referir-se-me, não diga coisas como "vai ser péssimo" ou "esperem para ver como ele vai ser uma desgraça". 
Mesmo sem me conhecerem, alguns já consideram que me cabem culpas e me colocam no pelourinho. Detestam-me, com a certeza antecipada de que comigo nada correrá bem, que represento o que de pior se pode vir a imaginar. 
O que mais me choca é que me não dão uma simples oportunidade de provar o que posso valer. É verdade, meu amigo, ninguém me dá o menor benefício da dúvida (quase me fugia a tecla para "dívida", imagine!).
Ora eu espero que me possam medir à luz dos factos. Quero dizer-lhe, embora com modéstia, que é minha firme intenção poder ajudar a rectificar aquilo que alguns dos antecessores meus poderão não ter feito da melhor forma. 
Mas não quero ser eu a julgá-los, eles lá teriam as suas razões e - espero que compreendam! -  disso me não cabem quaisquer culpas. 
Não sei se virei a ser pior que os outros, mas deixem-me tentar provar que até posso contribuir para que algumas coisas fiquem melhor no futuro.
Por isso, apenas peço que me julguem no fim, que seja dado tempo ao tempo.  
(assinado) 2011
Em tempo: Esta missiva já provocou uma reação por parte da Dra. Helena Sacadura Cabral, que pode ler
aqui. Nelas detetei uma parca generosidade, pouco de acordo com a época que atravessamos, devo dizê-lo.
Read more: http://duas-ou-tres.blogspot.com/2010/12/uma-carta-recebida.html#ixzz19nv9bZtw