24/04/2010

DONA TERRA



Dona Terra é um planeta muito antigo, que vive num bairro muito conhecido do Universo, o Sistema Solar. Dona Terra foi viver para aquele bairro há muito tempo, seguramente há muitos milhares de milhões de anos. Foi há tanto tempo que ela já nem se lembra muito bem como tudo aconteceu.
Dona Terra gosta muito de viver no Sistema Solar. “Tenho bons vizinhos”, diz ela sorrindo para a Lua, a vizinha do lado. “Mas o meu vizinho preferido é o Sol”, acrescenta, “sem ele não poderia viver”.
E é bem verdade. O Sol dá a energia de que Dona Terra precisa para funcionar. Se Dona Terra tem flores no jardim, é porque o Sol lhe manda a luz para elas crescerem. Mas não só. É a energia do Sol que faz mover os ventos e as correntes dos oceanos, e que aquece a superfície de Dona Terra, o que lhe permite ter muitos animais e plantas em casa.
“Já tive mais”, diz ela, “e bem esquisitos”. Dona Terra aproveita para mostrar o seu álbum de fotografias, onde guarda as memórias em pedra de muitos animais e plantas que já hospedou em sua casa.
Abre o álbum e, em cada página, em vez de uma fotografia tem um fóssil, muito bem colado à página. E começa a contar: “Estas são as trilobites, muito parecidas com as baratas de hoje, só que viviam no mar”. Dona Terra tem saudades das trilobites. Viveram na sua casa durante quase 300 milhões de anos. Depois desapareceram, tal como os dinossauros, que também viveram em casa de Dona Terra depois disso.
“É que, de vez em quando, eu tenho de fazer mudanças em casa”, diz Dona Terra, para explicar o desaparecimento de muitos outros organismos que constam do seu álbum de recordações. “Mudo os oceanos para o lugar dos continentes, os continentes para o lugar dos oceanos, e os meus hóspedes às vezes não se adaptam, e vão-se embora”, acrescenta. É que Dona Terra, apesar da sua idade avançada, é um planeta muito activo, que adora mudanças. “Adoro mudar o pavimento dos oceanos”, diz entusiasmada. E mostra alguns locais dos fundos oceânicos do planeta onde, à mesma velocidade com que crescem as nossas unhas, ela cria um novo fundo. “E nos continentes, quando já não tenho onde os arrumar, encaixo-os uns em cima dos outros”, acrescenta Dona Terra, mostrando a arrumação que deu à cordilheirados Himalaias, uma imensa pilha de montanhas que já chega quase ao tecto do mundo.
Às vezes cai tudo ao chão e pimba, “lá vai mais um sismo!”, diz Dona Terra, com ar travesso, bem diferente da cara que faz quando está zangada e explode num tremendo vulcão, lançando chispas de lava vermelha pelos ares.Tirando esses momentos de maior agitação, Dona Terra faz a sua vidinha de rotina. De manhã, acorda, abre as janelas e deixa iluminar o planeta. Os rios transportam os grãos de areia para o mar, de noite e de dia. Os ventos do deserto e os glaciares das terras altas, também trabalham sem parar. Mas a maior parte dos animais e das plantas só funcionam de dia. Precisam da luz solar para procurar comida e para se defenderem dos predadores.
“O pior é o Homem”, diz Dona Terra. “É o hóspede que mais dores de cabeça me dá”, lamenta. O Homo sapiens apareceu no planeta há cerca de 150.000 anos, mas nos últimos 2 séculos desarrumou-lhe a casa toda. “Foi quando descobriu os meus tesouros, que este desatino começou”, diz Dona Terra com uma profunda tristeza. Primeiro, descobriu o carvão que Dona Terra guardava com tanto cuidado há milhões de anos nas caves do planeta.
Inventou máquinas a vapor para tudo e mais alguma coisa, que gastaram quase todo o carvão de Dona Terra. “Eu bem avisei”, diz ela muito decepcionada, ainda se lembra de ter dito aos comboios para reclamarem “Pouca Terra, pouca Terra”, na esperança de que os seus maquinistas parassem para pensar. Mas o Homem não ligou nenhuma às reservas de carvão que Dona Terra tinha na despensa e que estão já quase esgotadas.
Depois, o Homem descobriu o petróleo e o gás natural, e a coisa ainda foi pior. “Tenho a casa cheia de fumo e um grande buraco no tecto”, reclama Dona Terra. E também as reservas de petróleo e gás natural estão quase a esgotar-se, sem que Dona Terra tenha tempo de produzir mais. Isto porque os combustíveis fósseis levam milhões de anos a formar-se e o Homem gastou tudo num instante, na gasolina e no plástico.
“Não sei o que vai ser da humanidade no futuro”, diz Dona Terra, “nem de mim!”. E tudo isso sem necessidade nenhuma, porque existem muitas fontes de energia no planeta
que permitem ao Homem fazer tudo aquilo que ele faz com o petróleo. São fontes inesgotáveis e não-poluentes. Dona Terra apressa-se a descrevê-las: “A energia do Sol, do vento e da água pode ser transformada, da mesma forma que a energia dos combustíveis fósseis, e fazer mover motores
da mesma maneira que o petróleo”. Com a vantagem de Dona Terra assim manter a casa bem limpa e de o Homem não precisar de lhe assaltar a despensa a toda a hora.
“E é isso que o Homem vai acabar por fazer, tenho a certeza”, diz Dona Terra que, apesar de tudo, tem um grande
fraquinho pela espécie humana. “Alguns seres humanos portam-se mal comigo”, acrescenta Dona Terra, “aproveitam-se do meu volfrâmio para fazerem bombas e cuidam mal os meus solos e a minha água, o que lhes tem trazido muitas desgraças”, afirma com alguma mágoa. “Mas há outros que me compreendem tão bem”, diz, orgulhosa. “Até inventaram uma ciência só para mim: a Geologia”.
Maria Helena Henriques
Maria José Moreno
A. M. Galopim de Carvalho

4 comentários:

Wanderley Elian Lima disse...

Olá
Obrigado pela visita ao meu blog e pelo comentário. Quando puder volte, vou gostar muito.
Estou te seguindo
Beijos

lis disse...

Gostei muito do texto
Essa Donsa Terra é boazinha demais , tem a casa toda cheia de de fumos e um buraco no teto e ela mesmo assim ainda tem uma quedinha pelos seres humanos rs é vaidosa gosta da Geologia nome bonito que deram pra ela rs
muito bom muito bom.
muitos abraços bom domingo

Lilá(s) disse...

O homem anda a portar-se muito mal com a dona terra...
Bonito texto.
Bjs

uminuto disse...

belíssimo texto ...de facto está aberto o sinal amarelo, temos de respeitar a D. Terra, se queremos ter futuo
um beijo meu