16/04/2010

Lisboa à beira Tejo




Deixo-lhe como sugestão, para este fim-de-semana chuvoso, a exposição  “Lisboa à beira Tejo”. Fui à inauguração e fiquei encantada.
O livro é muito bom, se não puder ou não quiser comprar, opte pela colecção de postais.
Aproveite!


"A exposição “Lisboa à beira Tejo”, uma parceria Egeac e Arquivo Fotográfico Municipal de Lisboa, dá a conhecer a relação da cidade com o rio num manancial constante de surpresas que alimentam a diferença lisboeta.
A atracção pelos aspectos peculiares dessa coabitação criativa ganhou especial enfoque com a disseminação da fotografia, na segunda metade do século XIX, prendendo ao sabor do acaso a pluralidade de facetas que fizeram o dia-a-dia desse universo ribeirinho em mutação permanente. Profissionais ou amadores, inúmeros fotógrafos se deixaram contagiar por essa realidade palpitante, onde se misturam gentes e barcos num cenário que se foi desdobrando em novidades constantes: docas novas, guindastes, comboios, avenidas ou edifícios.
É o sabor tão especial dessa mundividência lisboeta que o Arquivo Fotográfico Municipal e a EGEAC o convidam a desfrutar. A Exposição e o Álbum que a completa reúnem uma selecção do vasto espólio guardado, procurando que o visitante percorra em roteiro imaginário o percurso da margem do rio desde a foz do Trancão à antiga praia de Pedrouços. Com enfoque natural nas áreas mais míticas – Terreiro do Paço, Cais do Sodré ou Belém – é essa cidade em reelaboração que surge animada pela cadência datada das fotos seleccionadas.
Uma boa ocasião para sentir a intimidade de Lisboa, ou, mais simplesmente, exercer a atitude sempre simpática de matar saudades."


E porque ando a ler António Gedeão, aqui fica mais um poema:


Aurora boreal
Tenho quarenta janelas
nas paredes do meu quarto.
Sem vidros nem bambinelas
posso ver através delas
o mundo em que me reparto.
Por uma entra a luz do Sol,
por outra a luz do luar,
por outra a luz das estrelas
que andam no céu a rolar.
Por esta entra a Via Láctea
como um vapor de algodão,
por aquela a luz dos homens,
pela outra a escuridão.
Pela maior entra o espanto,
pela menor a certeza,
pela da frente a beleza
que inunda de canto a canto.
Pela quadrada entra a esperança
de quatro lados iguais,
quatro arestas, quatro vértices,
quatro pontos cardeais.
Pela redonda entra o sonho,
que as vigias são redondas,
e o sonho afaga e embala
à semelhança das ondas.
Por além entra a tristeza,
por aquela entra a saudade,
e o desejo, e a humildade,
e o silêncio, e a surpresa,
e o amor dos homens, e o tédio,
e o medo, e a melancolia,
e essa fome sem remédio
a que se chama poesia,
e a inocência, e a bondade,
e a dor própria, e a dor alheia,
e a paixão que se incendeia,
e a viuvez, e a piedade,
e o grande pássaro branco,
e o grande pássaro negro
que se olham obliquamente,
arrepiados de medo,
todos os risos e choros,
todas as fomes e sedes,
tudo alonga a sua sombra
nas minhas quatro paredes.

Oh janelas do meu quarto,
quem vos pudesse rasgar!
Com tanta janela aberta
falta-me a luz e o ar.

6 comentários:

Lilá(s) disse...

É uma boa sugestão, até porque o fim de semana vai estar pouco atrente para passear. Também adoro António Gedeão, está na minha lista de preferencias.
Bjs

RN disse...

Bem o poema é muito bom!
Nunca li António Gedeão, mas certamente que agora irei fazê-lo.
Bom fim-de-semana.

Rosa dos Ventos disse...

O Tejo, Lisboa e Gedeão!
Não é preciso mais... :-))

Abraço

Alberto Oliveira disse...

Uma bela sugestão que já consta da minha agenda para a próxima semana. Até porque foi a minha cidade-berço.

Óptimo fim de semana.

Justine disse...

Também quero ir, para a próxima semana:))Obrigada por chamares a atenção para o evento!
Abraço

com senso disse...

A sugestão é magnifica, mesmo para um fim de semana que afinal não foi tão mau como se previa.
Melhor recebida ainda ao som de Rufus!
E por falar em som, não posso deixar de referir que acho belíssimo o poema de Geadão, que tem por sinal uma versão belíssima, infelizmente muito pouco divulgada na voz de Carlos do Carmo!
Votos de um excelente fim de semana.