11/09/2011

Poema do silêncio

Em memória de todas as vítimas que directa e indirectamente o 11 de Setembro provocou, fico-me pela poesia


Sim, foi por mim que gritei.
Declamei,
Atirei frases em volta.
Cego de angústia e de revolta.

Foi em meu nome que fiz,
A carvão, a sangue, a giz,
Sátiras e epigramas nas paredes
Que não vi serem necessárias e vós vedes.

Foi quando compreendi
Que nada me dariam do infinito que pedi,
- Que ergui mais alto o meu grito
E pedi mais infinito!

Eu, o meu eu rico de baixas e grandezas,
Eis a razão das épi trági-cómicas empresas
Que, sem rumo,
Levantei com sarcasmo, sonho, fumo...

O que buscava
Era, como qualquer, ter o que desejava.
Febres de Mais. ânsias de Altura e Abismo,
Tinham raízes banalíssimas de egoísmo.

Que só por me ser vedado
Sair deste meu ser formal e condenado,
Erigi contra os céus o meu imenso Engano
De tentar o ultra-humano, eu que sou tão humano!

Senhor meu Deus em que não creio!
Nu a teus pés, abro o meu seio
Procurei fugir de mim,
Mas sei que sou meu exclusivo fim.

Sofro, assim, pelo que sou,
Sofro por este chão que aos pés se me pegou,
Sofro por não poder fugir.
Sofro por ter prazer em me acusar e me exibir!

Senhor meu Deus em que não creio, porque és minha criação!
(Deus, para mim, sou eu chegado à perfeição...)
Senhor dá-me o poder de estar calado,
Quieto, maniatado, iluminado.

Se os gestos e as palavras que sonhei,
Nunca os usei nem usarei,
Se nada do que levo a efeito vale,
Que eu me não mova! que eu não fale!

Ah! também sei que, trabalhando só por mim,
Era por um de nós. E assim,
Neste meu vão assalto a nem sei que felicidade,
Lutava um homem pela humanidade.

Mas o meu sonho megalómano é maior
Do que a própria imensa dor
De compreender como é egoísta
A minha máxima conquista...

Senhor! que nunca mais meus versos ávidos e impuros
Me rasguem! e meus lábios cerrarão como dois muros,
E o meu Silêncio, como incenso, atingir-te-á,
E sobre mim de novo descerá...

Sim, descerá da tua mão compadecida,
Meu Deus em que não creio! e porá fim à minha vida.
E uma terra sem flor e uma pedra sem nome
Saciarão a minha fome.

José Régio, in 'As Encruzilhadas de Deus'

7 comentários:

trepadeira disse...

Há tantos 11 de Setembro.
Hoje escolhi Allende e o Chile.

Um abraço,
mário

Justine disse...

Há tantos "11 de Setembro" a acontecerem por este mundo fora!Quase sempre provocados pelos mesmos...

Anónimo disse...

11 de Setembro uma data que todos guardam. é uma negativa na caderneta dos HUMANOS!!!

beijo meu

Rosa dos Ventos disse...

No FB optei pelo 11 de Setembro de 1973!
Choca-nos tudo o que é trágico mas os "construtores" de tragédias actuam em qualquer data!

lis disse...

Triste quando o que marca mais são as tragédias em massa. Essa é inquestionável! e ainda há quem diga que o País merecia.Nnguem merece ser assim tão violentado por mentes doentes.E a mente de quem diz isso também está doente.
Uma homenagem com uma bela poesia , ha encruzilhadas por todo o planeta, infelismente.
Até quando nos desviaremos delas?
Gostei muito do texto sobre a Jasmin, emocionante.
A sensibilidade em nós é que nos fazer amar os animais , a natureza.
Parabéns por ser assim.
um abraço nessa volta que foi antes do prometido rsrs
bom resto de semana

Raíssa Soares disse...

Lastimável demais o ocorrido! Obrigada por sua visita lá no devaneios! Tem novo post. Beijo!

Lilá(s) disse...

Boa semana para ti.
Bjs