01/05/2010

Filmes que não esquecemos: As Noites de Cabíria

Vi as Noites de Cabíria de Fellini, no ciclo Cinco Noites, Cinco Filmes na RTP2, quem se lembra deste ciclo?
O filme marcou-me muito, de tal forma que anos mais tarde olhando Lisboa do miradouro do Cristo Rei lembrei-me da cena final em que Cabiria descobre que afinal o amor lhe pregara uma partida. 
E foi há tanto tempo...
Hoje ao ver "Sob o sol da Toscânia" voltei a lembrar-me do filme. Confesso que julguei encontrar pouco sobre ele. Na pesquisa deparei-me com este texto. Porque está divinal, não resisti em publicá-lo aqui com a devida referência do seu autor: Stranger in a Strange Land 
"Cabiria é uma prostituta com uma personalidade singular que vive a vida. Ela tem orgulho no facto de possuir a sua própria casa, e quase nunca ter dormido nas ruas, debaixo de arcadas. Feroz, determinada, mas ingénua, acredita no amor piamente. E é por acreditar tão fortemente no amor que a cena de abertura se revela inicialmente idílica para terminar num completo e hilariante desastre. Quando Cabiria quase se afoga e é salva pelos locais, ela espanta tão só pela sua agressividade e rudeza.

Assistimos depois às noites de convívio com a low life de Roma e que fazem o espectador sorrir com a sua exuberância e aparente alegria. E quando Cabiria se deixa levar pela dança parece, por breve momentos, verdadeiramente feliz. Mas não deixa de ser uma ave rara entre as prostitutas e chulos. Tem as suas próprias opiniões fortes sobre a independência de uma mulher que não se deveria submeter à exploração do mundo dominante masculino.
Não poderia deixar de haver algumas estratégias tipicamente fellinianas, como a observação da sociedade através dos olhos da personagem principal. É como se a acção do filme parasse por uns momentos, de modo a nos permitir espreitar janelas que abrem para o mundo italiano oculto por detrás de fachadas. Cabiria, numa noite, descobre um homem a praticar caridade com idosos a viver em cavernas, nas condições mais miseráveis. Ela receia estar a ver o seu próprio futuro no rosto de uma velha prostituta.
E como não nos deixarmos levar por uma certa tristeza quando vemos as suas lágrimas perante um actor famoso e o seu desabafo de que ninguém acreditaria que alguém tão baixo como ela estivera com um homem como ele, um sonho inalcançável.
Mas é a extraodinária cena no teatro de variedades que transporta o filme para além de qualquer retrato comum do mundano. Cabiria é ludibriada para um jogo de hipnose em que o mágico joga cruelmente com a sua própria inocência e pureza interior. Expondo-se em público, e revelando ser uma mulher vulnerável e carente, ela conserva a sua dignidade mesmo perante os olhos de uma plateia que a humilha.
A sua imensa força de carácter revelada ao longo do filme, a par com uma personalidade sonhadora e idealista, é quem a sustém nas cenas mais críticas e lhe dá esperança para continuar em frente, mesmo quando a vida não corresponde de todo às suas expectativas, mesmo quando a vida parece, por momentos, nunca descobrir um caminho para longe da escuridão cerrada.
Mais um extraordinário filme de Fellini.

As Noites de Cabíria
(Notti di Cabiria, Le, 1957)
» Direção: Federico Fellini
» Roteiro: Federico Fellini (história e roteiro), Ennio Flaiano (história e roteiro), Tullio Pinelli (história e roteiro), Pier Paolo Pasolini (roteiro), Maria Molinari (romance)
» Gênero: Drama
» Origem: Estados Unidos/Itália
» Duração: 117 minutos
» Tipo: Longa-metragem



3 comentários:

uminuto disse...

li vou ver o filme assim que puder, cativaram-me as palavras e a história descrita
um beijo e bom fds

via disse...

chamou-me a atenção o filme mencionado "Ao Sol da Toscânia" que vi também na Tv e do qual gostei particularmente, quanto ao Fellini, bom, é sempre muito bom!

Justine disse...

Lembro-me muito bem desse ciclo,e de outros realizadores, e ainda tenho os filmes todos gravados nas velhas cassettes:))
Abraços