08/05/2010

Trova do vento que passa

 
Estava cansada, a madrugada pegou com o dia de trabalho, as reuniões e as decisões encadeavam-se. A energia faltava-me mas o dia, apesar de ir longo, ainda estava demasiado pequeno.
Larguei o computador, peguei no carro e, sem dizer nada a ninguém, fui até Belém beber a paisagem de um rio agitado mas sempre belo.
O dia estava ventoso, demasiado ventoso, porém, isso não me demoveu. A minha mente divagava quando uma folha de papel se prendeu no tornozelo. Sem saber porquê, em vez de fazer um gesto para que a folha continuasse o seu caminho, baixei-me e apanhei-a.
Comecei a ler, enquanto o fazia o meu coração apertava-se mais e mais, porque esta era uma carta que continha em si uma dor e uma mágoa profunda.
"Hoje cruzei-me contigo, olhaste para mim tão friamente que o meu coração gelou. Ah! Que é feito do teu olhar outrora tão doce?
Falaste comigo como quem fala com uma estranha, queria abanar-te, dizer-te: sou eu, não me reconheces, sou a que te amo, tu também me amas, lembras-te?
Queria gritar-te: não sou eu a causadora da tua infelicidade; um dia descobrirás que a pessoa que escolhestes para companheira da tua vida não passa de um monstro de uma macumbeira e olha que foi ela mesmo que mo disse. Com ela ninguém se mete, quem o faz arrepende-se cegamente. E ela escolheu-te, é tua dona e eu saí do teu caminho. Não és feliz com ela, mas segundo ela isso não importa, o que conta é que estás lá, ao seu lado; és dela e de mais ninguém.
Quem pode enfrentar um monstro assim? No dia em que descobrires quem ela é, estarei aqui meu único e grande amor…como diz a canção haja o que houver estarei aqui…
O dia de hoje foi para mim de Inverno, Inverno profundo e gélido, tal como gélido permanece o meu coração.
À noite como que por magia, olhaste para mim e o mundo parou, o teu olhar era o mesmo com que sempre me olhaste, tão doce, harmonioso e profundo. Quando me olhavas assim, o mundo parava e tudo era possível. Ali ficamos os dois abraçados como tantas vezes, olhando um para o outro, saboreando a imensidão do nosso amor.
Acordei e estremeci, tu não estavas e o meu coração continua gelado pelo gélido e desprezo do teu olhar.
Por favor acorda!”
Sempre tua X
Quem escreve assim, tem o coração partido.
Que Deus a abençoe!
Não consigo tecer comentário sobre esta história, mas senti uma enorme vontade de a escrever....
Regressei ao trabalho, mas até hoje ainda me sinto estranha e dei por mim a "rezar" pela X e pela luz no coração de todos.

3 comentários:

lis disse...

Gostei muito do conto, apesar de triste , mas como canta maria Bethania que "todo grande só é bem grande se for tristemas nem todos os caminhos me encaminham .... rsrs
Porque será que todos choramos um amor grande que passou ? rs a música é boa e a carta como tantas e tantos corações partidos por aí...
Demorei um pouquinho chegar aqui porque estava com o link antigo , agora deu certo .
Deixo um abraço e desejos de um belo dommingo.

Rosa dos Ventos disse...

Bela história muito bem acompanhada para este fim de semana "atípico", não chove mas faz frio ...e no entanto é primavera!

Abraço

Ana Paula Sena disse...

Que bonita história de amor, ainda que envolva essa tristeza que faz tantas vezes parte dele mesmo.
E muito bem contada, também a encontrei!

Obrigada :) Com votos de novas felicidades para todos os que hoje sofrem...