12/08/2010

O meu país...










Ouvi por acaso esta canção(qualquer semelhança como meu país é pura coincidência)...
... e pensei no meu país que é Portugal.

Amo o meu país, este belo país em que se podia viver maravilhosamente não fosse um número cada vez maior de "mas" e "ses".
Por onde começar, onde encontrar o fio da meada que nos permitiria encontrar o(s) responsável(eis)? 
Tal como os incêndios  também os responsáveis pelo estado do meu país atacam em várias frentes.
Falta brio e responsabilidade. Falta sentido de justiça, de amor ao próximo, de amor ao país, falta sentido de PÁTRIA, enfim a crise começou por atingir os valores. Onde mora o último político com sentido de estado? (por favor não me venham falar em Mário Soares que é tão "Chulo" como outro qualquer).
Os corruptos andam de cabeça erguida, porque não têm consciência nem vergonha e a justiça não os condena; como o pode fazer se  a própria justiça precisa ela de ser chamada à razão.
A crise económica é grave, mas o que mais me aflige é o que está por trás desta crise: a certeza de que quem tem poder pode fazer o que quiser que ninguém será responbilizado.
Podemos acusar o governo, principalmente Sócrates, mas isso não muda a realidade: o mal não está só na política.
A comunicação social estende a passadeira vermelha a Carlos Cruz como se este fosse mesmo uma vítima. (Dizia ele que estava a explicar à filha todo este processo da Casa Pia...Pergunto eu: e se a filha lhe perguntasse "pai o que fazias quando as meninas da minha idade com que te divertias choravam?) 
No meu país as vítimas da Casa Pia serão esquecidas, os carrascos serão dados como inocentes e todos acharemos isso normal.
O país arde e todos acharemos normal porque é Verão e está calor.
Os crimes de corrupção aumentam, mas achamos normal porque ELES é que mandam e têm a faca  e o queijo na mão. Os bancos roubam qualquer cidadão, mas claro dentro da legalidade e por isso nada lhes acontece.
Os mineiros, pescadores e trabalhadores rurais reformados vivem com uma miserável reforma que em nada os dignifica mas o estado esbanja Rendimentos Social de Inserção e subsídios de desemprego (Claro que fica de fora desta crítica todos os que os recebem justamente).
Nunca me considerei xenófoba nem racista mas confesso que começo a sentir uma grande revolta com a forma como o meu país funciona. Os ciganos que em nada contribuem para a riqueza do país recebem elevados subsídios (no outro dia nos CTT uma cigana recebia 1400 euros, valor mais elevado que o meu ordenado), e  computadores Magalhães, porque um Magalhães quando nasce é para todos mas depois vão vendê-los na feira do relógio.
Generalizando mais uma vez e por isso aumentado a percentagem de erro, irrita-me que o estado invista cada vez mais em escolas para  alunos que não querem aprender (nem os pais se preocupam com isso, desde que tenham boas notas e um canudo).
No meu país todos têm direitos e ninguém tem deveres, 
A sociedade está hipotecada e por conseguinte o meu país irá afundar-se. Até aceitava uma bancarrota se encontrasse bem no fundo do meu país -  mas não tão fundo que me aproximasse dos submarinos - uma réstia de valores, brio e sentido de justiça.
Não sabemos cuidar dos nossos velhos, das nossas crianças nem dos nossos animais, nem tão pouco sabemos cuidar de nós mesmos.
Eu sei que estamos no mês de Agosto (há muito que deixou de ser o "querido mês de Agosto", como no filme...)
mas alguém me sabe dizer como salvar o meu país?
O meu país:

Tô vendo tudo, tô vendo tudo
Mas, bico calado, faz de conta que sou mudo

Um país que crianças elimina
Que não ouve o clamor dos esquecidos
Onde nunca os humildes são ouvidos
E uma elite sem Deus é quem domina
Que permite um estupro em cada esquina
E a certeza da dúvida infeliz
Onde quem tem razão baixa a cerviz
E massacram - se o negro e a mulher
Pode ser o país de quem quiser
Mas não é, com certeza, o meu país

Um país onde as leis são descartáveis
Por ausência de códigos corretos
Com quarenta milhões de analfabetos
E maior multidão de miseráveis
Um país onde os homens confiáveis
Não têm voz, não têm vez, nem diretriz
Mas corruptos têm voz e vez e bis
E o respaldo de estímulo incomum
Pode ser o país de qualquer um
Mas não é com certeza o meu país

Um país que perdeu a identidade
Sepultou o idioma português
Aprendeu a falar pornofonês
Aderindo à global vulgaridade
Um país que não tem capacidade
De saber o que pensa e o que diz
Que não pode esconder a cicatriz
De um povo de bem que vive mal
Pode ser o país do carnaval
Mas não é com certeza o meu país

Um país que seus índios discrimina
E as ciências e as artes não respeita
Um país que ainda morre de maleita
Por atraso geral da medicina
Um país onde escola não ensina
E hospital não dispõe de raio - x
Onde a gente dos morros é feliz
Se tem água de chuva e luz do sol
Pode ser o país do futebol
Mas não é com certeza o meu país

Tô vendo tudo, tô vendo tudo
Mas, bico calado, faz de conta que sou mudo

Um país que é doente e não se cura
Quer ficar sempre no terceiro mundo
Que do poço fatal chegou ao fundo
Sem saber emergir da noite escura
Um país que engoliu a compostura
Atendendo a políticos sutis
Que dividem o Brasil em mil Brasis
Pra melhor assaltar de ponta a ponta
Pode ser o país do faz-de-conta
Mas não é com certeza o meu país

Tô vendo tudo, tô vendo tudo
Mas, bico calado, faz de conta que sou mudo

17 comentários:

Cristina Torrão disse...

A canção é impressionante, mas o seu post não o é menos.
Desde a filha de Carlos Cruz, aos Magalhães vendidos na Praça do Relógio, é tudo muito deprimente...
Se lhe serve de consolação, digo-lhe que, nos idos anos oitenta (não é preciso dizer do século passado, a que outros "oitenta" eu me havia de referir?) eu nem com sais de frutos consegui fazer a cruzinha no Mário Soares...

Mar Arável disse...

Bom texto o seu

Bem-vinda sempre

ao meu mar

Bjs

zeparafuso disse...

Texto bem escrito. Tem jeito. Até tem jeito para julgar pessoas. Enfim ! Há dias assim !

Há.dias.assim disse...

Kássia,
concordo que seja deprimente mas o que escrevo é real, felizmente o país é mais do que isto.

Há.dias.assim disse...

Mar arável
Obrigada pela visita.

Há.dias.assim disse...

zeparafuso,
os blogues, pelo menos o meu, reflectem a opinião dos seus "donos". Há Magalhães à venda na feira do relógio, O Carlos Cruz, tal como a PJ sabe, a Katalina Pestana e todos os que tiveram acesso ao depoimento era um tarado por meninas, não por meninos e revolta-me que agora a dias de sair o resultado venha armar-se em vítima. Poderá até ser considerado inocente mas isso não muda a realidade.
Aos seus olhos é um julgamento o que faço e por acaso não somos todos uns julgadores?
O país afunda-se e há quem esteja muito bem com a situação...

trepadeira disse...

Minha cara

Nada se resolverá sem mudar o sistema.Aí é o problema.
Gritemos até os conseguir espantar.
Um grande abraço de solidariedade também,
mário

Regina Coeli Carvalho disse...

Retribuindo sua visitinha, encontro uma postagem sobre Portugal, terra que eu amo. Meu marido é português e minha filha já tem dupla nacionalidade. Estive ai no ano passado e se pudesse voltaria todo ano.
abraços.

Anónimo disse...

O mais arrepiante neste seu post é que se apluca na perfeição a toda a Europa e ao hemisfério norte em geral. Eu sempre gostei mais do sul e foi nesse futuro que sempre acreditei. E acredito...

lis disse...

Infelismente o texto é todo verdade e se nao indignarmos e mudar nosso poder de voto e de união pra fazer mudanças vai ficar pior , tanto aqui como lá percebo semelhanças.
Aproxima-se as eleiçoes por aqui e o que vemos ? a mesma palhaçada de sempre - promessas e discursos vazios.
Sempre os mesmos no poder e a corrupçao correndo livre, a violencia é outro poder paralelo , chegamos ao ponto de favelas inteiras onde quem manda é o tráfico - a policia nao entra.
Nesse governo há alguma melhora, mas nao dá mais pra consertar mais.
A única coisa decente ainda é que por onde ando o povo tenta ser feliz e a cidade tem encantos mil apesar de.E o ópio é de fato o carnaval e o futebol, precisa-se de algo pra adocicar o coração.

deixo beijinhos

lis disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Há.dias.assim disse...

Mário,
obrigada pelas palavras.

Há.dias.assim disse...

Mário,
obrigada pelas palavras.

Há.dias.assim disse...

Regina,
obrigada pela visita.Volte sempre!

Há.dias.assim disse...

Carlos,
Outros destinos me chamam. Não são definitivos mas pelo menos dá para esquecer um pouco o que as sociedades ocidentais e ditas desenvolvidas se tornaram.
Vou voltar ao Brasil - achei que não seria capaz de lá voltar mas o tempo é um santo milagreiro - e passar um tempo em Angola. São projectos, quem sabe o que daí advém...

Há.dias.assim disse...

Lis
acontece por todo o lado. E vamos ignorando...

Rafeiro Perfumado disse...

Sabes o que te digo? Adoro o meu país, já em relação à fauna que o habita tenho muitas reservas. Beijocas!